Nina_Clauthewitch_05

NINA + Clauthewitch @ ZDB (17.04.2025)

Esperar o inesperado no Aquário

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Texto por Miguel Barba e fotografia por Rui de Freitas.

Há muita gente no Aquário por Clauthewitch. O projecto de Cláudia Noite, Nico Grazina e Diogo Lourenço. O shoegaze e o dream pop norteiam a sonoridade, sempre alicerçada numa forte componente melódica. A banda faz parte do eclético e interessante catálogo da Maternidade. No centro da actuação está o EP de estreia da banda, cujas canções giram em torno de Begónia. Na prática temos uma banda que procura a sua identidade e registo, sem medo de arriscar e já com alguns contornos interessantes. Pelo meio há tempo para um cover de «Jackie Down the Line» dos Fontaines D.C.

Nina Cristante é a vocalista dos bar italia. Eventualmente existirão alguns pontos de contacto, mas poucos. E as referências à banda ficarão por aqui, pelo simples facto de que são despropositadas. Cada canção encerra um mundo em si própria. É pop rock mas não é descarado, nem fácil. É seu. É NINA.

Cada canção é como um pequeno tornado, fechado sobre si próprio, mas com impacto em tudo o que toca. É importante deixar claro que o som é pré-gravado, com excepção da voz. Essa tem a entrega total. Arrancamos ao som de “Classics”, álbum de 2021; um conjunto de 10 momentos (ou canções) isolados, mas que juntos dão corpo a uma peça única. «miserere» surge logo de início e é também a primeira canção do disco. “Please, don’t wake up / Don’t stay up, don’t wake up”.

Passamos também pelo EP “Discordia”, recém-editado em colaboração com Orazio. A canção homónima, traz uma guitarra e bateria que serram dentes e ganham músculo, mas é NINA que traça as regras, que define os limites. Nunca nos sentimos confortáveis porque não sabemos o que esperar. A incerteza paira sempre no ar. Um registo suave pode surgir mais acústico ou eléctrico. Pode surgir lento e acelerar repentinamente. Ficamos com a clara sensação de que não fazemos a mais pequena ideia de quem é NINA. Porque ela assim quer, e é aí que reside o apelo. Uma canção termina de forma abrupta, e porque não? Não é por isso de estranhar quando a língua materna é invocada sem aviso prévio, num registo divergente de tudo o resto e mesmo assim tudo parece encaixar. Um suave post-rock quasi acústico em italiano pode fazer maravilhas, fiquem desde já a saber.

As canções quando começam, muitas vezes parecem (e são) lugares-comuns. É a voz e a performance de Cristante que introduzem o factor diferenciador. Uma persona de palco completamente distinta e isso transparece nos gestos e na forma como o seu corpo comunica. É intenso. Imaginar isto com uma banda por trás… Arrepia.

«Romance» encerra uma noite ao som de country e americana, porque aqui tudo faz sentido… de uma forma estranha. “I couldn’t sleep / No, I can’t sleep again”, canta NINA. Nós, partilhamos o sentimento.



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