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NOS Primavera Sound | Antevisão

Fim de tarde, com aquela brisa húmida que chega do mar mesmo ali pertinho, o cheiro da relva pisada e regada já com alguma cerveja, o fumo que vem do palco, a proximidade das pessoas, o som das conversas e gargalhadas, os abraços àquelas pessoas que só se encontram nesta altura, ou com que se tinha combinado vir desde 2019, os sacos de pano, os copos da cerveja, as toalhas xadrez sobre a relva, os sons, muitos sons que enchem o recinto, aquele frenesim de estar quase na hora do concerto mais desejado, a caminhada de palco em palco, a fila do bar, a fila da comida, a fila do wc. O NOS Primavera Sound está de volta, e caramba, que saudades!

O regresso vem recheado de maravilhas, mesmo com alguns bilhetes já a cheirarem a bafio, de quem os comprou logo em 2019, quando havia a promessa de bandas como os Pavement a encherem o cartaz de um festival que raramente desilude. A incerteza dos dois anos seguintes, deixou-nos a todos um pouco mais cinzentos e a determinada altura, parecia uma miragem voltar a estar aqui, tão perto de experimentar tudo outra vez e com a promessa cumprida e os bilhetes resgatados, sacudidos e prontos para serem trocados por tudo aquilo que nos desperta todos os sentidos num festival de música, no concerto por que esperámos todos estes meses (nalguns casos anos, noutros uma vida inteira).

O cartaz está povoado de “clássicos”, uns que já conhecemos bem, como Nick Cave & the Bad Seeds,,  Interpol, Kim Gordon , Dinossaur Jr., Gorillaz, ou o regresso de Beck, e a estreia em Portugal, a promessa cumprida, dos Pavement. Mas para além dos ícones já canonizados, como de costume, o NOS Primavera Sound, traz também uma excelente amostra dos novos valores, nacionais e internacionais, da música, como Caroline Polachek, Japanese Breakfast, Stella Donnely, Helado Negro, Rita Vian, Chico da Tina ou Little Simz.

Todos os dias do festival oferecem um cartaz bastante equilibrado, que pode colocar alguns dilemas a quem terá de escolher apenas um dia para dedicar à musica no Parque da Cidade.

Dia 9 o festival arranca em português com os Throes & The Shine a abrirem as hostes no palco Super Bock. O palco NOS mantém a toada e recebe Pedro Mafama, segue para paragens mais distantes, recebendo a australiana Stella Donnelly, a segunda vez que pisa o palco de um festival em Portugal, e se tivermos em conta a sua estreia, é um ótimo concerto para o princípio do lusco-fusco. Subimos desta parte do recinto, diretamente para o palco Binance, para espreitar a incontornável Kim Gordon.

Voltamos ao palco NOS, já na expectativa de voltar a ver Nick Cave rodeado pelos seus Bad Seeds, em todo o seu esplendor, dos clássicos antémicos, cujos refrões queremos lançar ao ar em uníssono, quase como catarse, uma prece, até às canções da simplicidade poética mais desarmante e genuína. Partimos para a festa, e voltamos aos antípodas com o maestro Kevin Parker e os Tame Impala. Entretanto é preciso ter em conta que a ex-Chairlift, Caroline Pollachek estará, por esta altura, a distribuir o seu charme e os seus sons pelo palco Binance.

Quando as portas abrirem no dia 10, lá estarão os habitantes das primeiras filas, em prontidão, alguns deles, apostamos, ansiando pela tão esperada estreia em Portugal dos Pavement, banda mítica do indie rock ( o que quer que isso signifique), que fizeram o seu percurso com pequenos momentos de maior atenção do mainstream, mas que foram cultivando uma legião de fãs, que contam nas suas fileiras com nomes que hoje conhecemos bem, como Matt Berninger (The National) e que fez com o seu legado perdurasse muito para além dos 10 anos que duraram enquanto banda. Fecham o palco NOS neste dia e promete não desiludir. Mas até lá, há muito para nos entreter, no palco Cupra a tarde começa com os portugueses Holly Nothing. Para fechar a tarde, antes do sol se começar a pôr, os Beach Bunny trazem as suas canções até ao palco NOS. Antes de voltarmos a receber Beck, recomenda-se uma passagem pelo palco Cupra, para deixarmos a voz grave e inconfundível de King Krule inundar-nos. Não podemos acabar a noite sem ir ver o swag impecável de Chico da Tina, ao palco Binance.

Num pulinho e quase sem dar por isso, chegamos a sábado, já estamos no último dia, quase já sentimos aquela melancolia de domingo ao fim do dia, em que a realidade da segunda-feira já está ali a espreitar. Mas! Ainda há um dia de concertos pela frente e a promessa de boas atuações não é menor que nos dias anteriores.

O palco Super Bock arranca com o português David Bruno, ao mesmo tempo que no Palco Cupra as canções dos Dry Cleaning começam a soar.

O palco NOS inaugura este dia com o suave das canções e da voz doce de Roberto Lange, ou Helado Negro. Para nos trazer de volta da tranquilidade de fim de tarde, entra em cena outra banda icónica do rock alternativo dos anos 90, os Dinosaur Jr.

Preparamo-nos para voltar a abraçar velhos conhecidos, enquanto esperamos pela entrada dos Interpol, que trazem canções fresquinhas para mostrar, mas que quase que apostamos não vão deixar de fora os “clássicos”.

O fim do festival no Palco NOS traz-nos o projeto de Damon Albarn e do artista Jamie Hewlett, os Gorillaz, festa garantida para o princípio do fim de mais um ano de NOS Primavera Sound. Antes de nos despedirmos do parque da cidade, com os olhos postos já no ano que vem, não podemos deixar de passar pelo palco Binance e ouvir Earl Sweatshirt.

Faltam já poucos dias para o regresso dos grandes festivais de verão, para o NOS Primavera Sound voltar a soar pela cidade do Porto a fora, bem-vindo, já estávamos com saudades.



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