“O dia em que me tornei pior do que um lobo” de Amélie Javaux e Annick Masson

Alerta bullying!

Os números não mentem e, segundo um relatório difundido pela UNICEF, cerca de um terço das crianças e adolescentes em idade escolar é alvo de bullying. No entanto, a organização refere que essa fatia pode ser superior, pois muitas das vítimas, por vergonha ou medo de represálias, escondem essa condição.

É sobre essa assustadora realidade que versa O dia em que me tornei pior do que um lobo (Fábula, 2025), da autoria da belga Amélie Javaux, e com ilustrações de Annick Masson, um álbum cuja narrativa delicada e traços elegantes em forma de desenho é um pertinente exercício sobre o que, infelizmente, acontece em muitas das escolas do mundo, não sendo Portugal uma exceção.

Uma das consequências de ser vítima de bullying é ficar triste e é esse o sentimento que preenche o coração de Carlota, a protagonista deste livro. Tudo porque há um “lobo” na escola, de seu nome Andreia, e que, em conjunto com a sua “alcateia”, tem por hábito assaltar Carlota com constantes maldades.

Farta de ser vítima, e escondendo o que se passava de todos, Carlota toma a decisão de juntar-se ao grupo de Andreia, tornando-se pior do que o “lobo”, o que fez crescer o nó que sentia na barriga, principalmente pelo que fez ao pequeno Miguel.

A metáfora do lobo, aqui revestido de tonalidades cinza, escondido por trás de «uns totós engraçados» e que se transfigurava no recreio, é utilizada por Amélie Javaux, psicóloga de formação e autora do premiado Uma família (des)ligada – livro que aborda a relação dos mais jovens com os ecrãs –, como forma de transmitir a importante mensagem de que a solução para quem é vítima de bullying na escola, ou em qualquer outro contexto, não é passar a agressor, mas sim confessar o que se passa consigo, seja com pais ou professores. Outra das ideias que ficam bem sublinhadas no livro é que a empatia, o nos colocarmos no lugar do outro, é o primeiro passo para lutar contra o abuso entre pares.

Só através desse pensamento e forma de agir, vamos conseguir compreender e lutar contra um fenómeno que não conhece fronteiras ou estatutos sociais e de relacionamento, que pode deixar profundos traumas e marcas emocionais (e por vezes físicas…). Enquanto pais, educadores, família e amigos, temos o dever e obrigação de proteger as crianças, explicando que podem defender-se e que não é vergonha falar sobre assuntos que as assustam e agridem. E este livro pode muito bem ser uma forma de chegar até eles e ser ponto de partida, pretexto, para uma conversa segura.



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