Peaches | Entrevista
"Desejo que cada pessoa ame a pessoa que precisa, sem medo"
A cantora canadiana Merrill Beth Nisker, mais conhecida por Peaches é uma explosão sexual na música electrónica, um vulcão nas artes performativas e, agora, uma revolução histérica no cinema musical. Peaches veio a Lisboa apresentar o seu último filme, “Peaches Does Herself”, mas também para falar com a RDB, numa entrevista intimista e original.
“Peaches Does Herself” é o seu primeiro filme como realizadora, um musical sexual que integra a secção do Indie Music no IndieLisboa. Influenciada por “Phantom of the Paradise”, “Tommy” e “The Rocky Horror Picture Show”, esta obra é uma homenagem a si própria, à sua vida e carreira. “This is not a documentary, but it’s a way to understand me in a fantastical way”. Músicas como «Fuck the Pain Away», «Set It Off», «Lovertits», «I U She» ou «Shake Yer Dix» dão vida a este peculiar espectáculo cinematográfico.
Actualmente resides em Berlim. O que te levou a adoptar essa cidade?
Há treze anos que me decidi mudar para Berlim, primeiro porque se interessaram pela minha música – aproveitei e investi nisso -, e segundo porque havia muita gente maluca a rondar e a mudar-se para a cidade. Achei que Berlim tinha o perfil ideal para receber-me como artista, e assim acabei por tornar-me parte de todo aquele cenário.
A tua personalidade excêntrica faz com que muitas pessoas te achem algo estranha, ou talvez diferente. Segues o lema “Be different”?
O meu lema é mais o “Be Yourself”. Cada um tem que ser genuíno consigo próprio, com quem é na verdade e encontrar-se a si mesmo. Para que isso aconteça, a pessoa tem que se desaprender muitas das coisas que lhe ensinaram e incutiram na escola, na vida e em casa. Tem que haver um desprendimento de algo que se entranhou durante anos, que se solidificou e se transformou em medos e preconceitos, e isso é difícil, “Be Yourself”.
Como surgiu a ideia de usares pénis insufláveis nos concertos?
O pénis insuflável já vinha de antes, já ocupava a história no mundo da música. Os Rolling Stones, e posteriormente os Pink Floyd, usaram-nos em palco. Quando o fizeram toda a gente achou incrivelmente normal, quando fui eu a usá-los já acharam uma provocação.
És claramente uma defensora do prazer sexual e da descriminação sexual. Achas que há ainda um longo caminho pela frente para que se estabeleça a igualdade sexual?
Sim, acho que ainda há muito por fazer, mas sinceramente não sei como vai ser, não tenho a solução. Eu pelo menos estou a fazer a minha parte, e a lutar por isso.
De onde achas que vem essa personalidade e música tão sexualmente explícita, que chega, inclusive, a ter um toque provocativo?
Eu não acho que seja provocativa, é óbvio que para dentro de certos preconceitos e tabus sexuais talvez o seja. Mas, em geral, não sinto que seja provocativa, sinto que é puro entretimento.
“Peaches Does Herself” é o teu primeiro filme como realizadora. Um musical, uma ópera sexual. Qual foi o critério de selecção para as vinte e duas músicas que integram este filme?
Queria conceber uma narração, então voltei atrás e tive que pensar na história que queria contar, para encontrar e escolher todas as músicas que pudessem contar o que eu pretendia. As próprias músicas é que iam contar a história toda; não quis diálogos. Sinto-me uma sortuda por ter encontrado as músicas adequadas para este trabalho e de as ter conseguido alinhar.
O que queres oferecer ao mundo com “Peaches Does Herself”
Quero que a minha função como entertainer se concretize, quero que as pessoas gostem do filme e se divirtam com ele. Quero ser uma alternativa ao “Mamma Mia”.
Como desenvolveste os aspectos técnicos e formais para este filme? Tinhas conhecimentos sobre Cinema?
Não. Estudei apenas direcção de teatro por uns tempos e produção e técnicas de teatro. Filmámos as produções, os diferentes shows, todas as noites e à tarde continuávamos a trabalhar nisso, para termos mais close-ups até termos um filme. Tive uma equipa fantástica que me ajudou muito. O Robin Thomson foi o editor, encarregue de juntar os close-ups; foi difícil, um processo de edição muito trabalhoso. O processo de correcção da cor também deu bastante trabalho, pois no teatro as cores variavam muito de cena para cena e tiveram que ser reguladas para o filme.
És uma produtora de electrónica fantástica. Achas que ao apostares no Cinema perdes qualidades? Ou pelo contrário potencializa-las e ainda as complementas?
O Cinema e a Música são complementares, é fabuloso integrar as áreas e intersectá-las. A música não tem que estar isolada; com o cinema funciona lindamente, e isso já foi comprovado em grandes obras. Dou o exemplo de David Lynch, que compromete em muitos dos seus filmes o som e a imagem em doses equilibradas.
Vais continuar a dedicar-te ao Cinema?
Quero explorar mais o meu lado de performer e também quero trabalhar com mais realizadores, em parcerias. Agora estou a desenvolver com uma miúda algo mais virado para a ficção.
Que futuro sexual prevês e desejarias para a Humanidade?
Prevejo um mundo em que a humanidade será livre para amar, sem bullyings e sem suicídios, que ainda vão acontecendo bastantes. Um amor sem repressões, apenas um amor livre. Desejo que cada pessoa ame a pessoa que precisa, sem medo.
“Peaches Does Herself” será exibido dia 20 e 28 de Abril. No dia 20, depois da exibição, Peaches tomará conta dos palcos, em modo Indie by Night, onde mostrará a sua voz e sons electrónicos no Ritz Clube.
Fotografia por Marisol González
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