PR#8 – Jpod

"Jpod" de Douglas Coupland - Geeks are the new Cool -

Primeiro que tudo, acho importante referir que a escolha deste livro não foi inocente. Acabei a sua leitura à relativamente pouco tempo e pura e simplesmente, a–do-rei. Por esse motivo, vou “impingir-vos” com este artigo: o livro sugerido é uma pérola pop, da autoria de um senhor canadiano, Douglas Coupland.

Antes de mais nada, uma pequena bio

Nascido na base da Força Área canadiana, em Baden Baden, Alemanha, muda-se em 1965 para a cidade de Vancouver, Canadá, onde ainda hoje continua a morar e a trabalhar. Estudou arte e design não só no Canada, mas também em Itália e no Japão. O seu primeiro romance, “Generation X”, foi publicado em Março de 91. Desde então já publicou mais 9 romances e várias obras de não-ficção. Coupland tornou-se conhecido com “Generation X”, retrato irónico e ao mesmo tempo realista da geração –perdida- dos jovens adultos dos anos 90, prol dos baby boomers. A sua descrição cola de tal maneira à realidade que a expressão “coupleniana” que serve de título para o livro passou a ser utilizada por marketeers para descrever aquele determinade segmento populacional. Isto serve para provar que a inteligência e sensibilidade deste escritor funcionam como radar, detectando “tendências” da sociedade muito antes destas se tornarem do conhecimento geral. Douglas Coupland é um vanguardista, fareja temas mediáticos com anos de antecedência. Vejam “Microserfs”, a história acerca da vida entediante de um grupo de geeks informáticos de Sillicon Valley, escravos de um patrão irascível, fundador de uma empresa chamada Microsoft. Este livro começou a ser escrito em 1993 e a altura do seu lançamento, em 1995, coincidiu com a saída para o mercado de uma das plataformas mais utilizadas de todos os tempos, o Windows 95. É assim a  visão deste autor: iluminada, perspicaz, irónica, dark e incrivelmente divertida.

Paralelamente, escreveu e interpretou para a Royal Shakespeare Company e em 2001 inaugurou as suas primeiras exposições como artista visual. O ano de 2006 marca a sua estreia como argumentista, com o filme “Everything´s Gone Green”.

O estilo do polivalente de Douglas Coupland é muito peculiar, visto a sua escrita ter sido extremamente influenciada pelo seu interesse pelas artes e, mais especificamente, pelo design, assim como pela cultura pop. Não encaixa em nenhum género de ficção propriamente dito. Coupland diz “porque eu não tenho nenhum estilo em particular, cada livro tende a ser muito diferente daquele que o precedeu, o que resulta em que, depois de doze livros, acabe por ter o meu próprio padrão”. Esta aparente falta de coerência entre livros resulta em respostas extremas ao seu trabalho por parte dos seus leitores. Cria-se uma relação de amor/ódio entre um livro e outro. Ainda acerca deste tópico, Coupland afirma “se eu tivesse que ler apenas dois dos meus livros, eu leria “Hey Nostradamus!” e “JPod” (que curioso, foram exactamente os dois livros que eu li…sou a leitora ideal!)

Jpod ou tótós em psycho mode

Com “JPod”, Coupland recicla uma temática fétiche dos seus seguidores. Descreve as peripécias de um grupo de tecnogeeks que, desta feita, trabalham numa empresa que desenvolve jogos de computador. Obra do destino (ou apenas fruto de uma brincadeira sádica do departamento de recursos humanos), este grupo é forçado a conviver junto na mesma área de trabalho pois os seus sobrenomes começam por “J”. Coupland consegue fazer com que o leitor simpatize e se identifique com todas as suas personagens, até as mais psicóticas. É com um olhar atento e divertido que seguimos a vida de Ethan Jarlewski, o personagem principal à volta do qual se desenrola toda a trama. Ethan, talentoso programador de videojogos, é também o narrador de “JPod” (Coupland recorre frequentemente a este tipo de discurso na primeira pessoa). Para além de ter como co-workers cinco criaturas sinistras e cheias de tiques, pertence a uma família deliciosamente disfuncional, outra temática bastante utilizada no universo Couplandiano.

Nesta bizarra história reúnem-se temas tão actuais como diversos: o homicídio, a escravatura, o adultério e até o tráfico de droga e humano. Tudo isto descrito de um tom distanciado sendo a cherry on top o humor negro que alivia até o episódio mais macabro.

Outro aspecto interessante são as páginas e páginas de documentos “escritos” pelos personagens da história, que se misturam com a narração. Listas de números primos, conceitos aleatórios relacionados com as suas próprias vidas, caracteres chineses…vale tudo.  Para além de criar uma interacção diferente com o leitor e de conferir uma dimensão humana às personagens, estas listas reflectem o universo psicológico do típico jpodder. São uma alusão clara ao Síndrome de Asperger, sublinhando o carácter “autista” e completamente “fora” destes personagens, representando como que instantâneos do quotidiano muito particular destes tecnogeeks obsessivos.

Hilariante é também a forma como Coupland resolve atacar aqueles que criam boatos e mexericos em seu redor. A dada altura, surge um Douglas Coupland, personagem extremamente cínico e manipulador, com um penchant pela crueldade, retrato-robôt do google gossip criado à sua volta.

Repito: não sou nenhuma crítica, e por isso, a minha opinião vale o que vale. Mas uma coisa é certa: este livro é viciante e tal como o descrevem na contra-capa, “Muito malévolo, muito divertido”. Aconselho a sua leitura em inglês: aliás, eu sempre que posso leio na língua materna do autor, sem ofensa aos tradutores, mas é uma experiência completamente diferente. No caso de Douglas Coupland, cuja escrita é tão especial e que utiliza expressões por vezes intraduzíveis para português (pois perdem muito do sentido original) penso que esta dica ainda vale mais.



Existem 5 comentários

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  1. Miss Valdez

    Olá,

    Obrigado pelo teu comentário.

    Confesso que ainda não li a versão portuguesa :/
    Sempre que possível, procuro ler os autores na versão original, pois nas traduções, por muito boas que sejam, fico com uma sensação de perda, porque as línguas tem nuances impossíveis de traduzir e que podem fazer toda a diferença na tua leitura e interpretação do texto.

    Claro que nada disto é válido se for um autor russo, por exemplo. Aí, chapéu :)

  2. jpod

    ola, obg pela resposta.
    estou sem duvida de acordo ctg, e no caso do jpod ainda mais pois como sabes esta cheio de referencias à cultura norte-americana que tornam a traduçao muito complicada.
    a questao aqui é que alguem tinha de a fazer, e calhou a um gajo inexperiente e que nem sabia no que se ia meter.. ou seja, eu.. :) e gostava mt de ter feedback de alguem que não so se ve que é bom leitor, como tb ainda por cima leu e gostou do original.
    por isso se puderes dar uma olhadela… acho (espero!) que não te arrependerás… muito! :)
    (se nao tiveres acesso ao livro posso enviar-te uma copia pelo correio e dps devolves-ma qd acabares – é q os gajos da editora só me deram 3!)

    bjs


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