Rui Sinel Cordes
“Isto Era Para Ser Com o Sassetti” esgotou as salas em Lisboa e no Porto. Com 35 anos, conhecido pelo humor perverso, Rui Sinel Cordes já assinou conteúdos para televisão, teatro e rádio. Despreza directores e editores criativos que lhe pedem “humor que não ofenda ninguém” e não esconde o orgulho em ser politicamente incorrecto. “Je Suis Cordes” é o quarto solo do humorista que diz não testar as piadas antes dos espectáculos com ninguém.
Estás onde querias estar há 10 anos, quando começaste a carreira?
Nunca pensei nisso. Nunca projectei a minha vida a dez anos, nem tão pouco a dois ou três. Eu e a minha equipa fazemos um planeamento a oito, doze meses e sinceramente, não vale a pena pensar muito mais à frente. Na vida, tudo muda muito rapidamente. Mudam as realidades, as oportunidades, as vontades. Vou fazendo as coisas que gosto, da maneira que me apetece. O que te posso dizer, é que se há 10 anos eu tivesse um sneak peek do que é a minha carreira agora, iria ficar contente.
Como é que surgiu o Very Typical?
Surgiu da vontade do Boucherie de ter um programa de tops e da minha em fazer tops das piores coisas de Portugal. Daí, surgiu a ideia de pegar em temas que fazem parte do nosso imaginário como portugueses – férias, noite, música, homens, mulheres, tradições – e catalogar as 10 piores coisas ou situações dentro desses temas. Vai ser giro.
Expectativas para o programa?
As minhas são altíssimas. Foi feito um grande trabalho de guião, por uma óptima equipa. Trabalharam comigo o Rui Cruz, o Paulo Almeida e o Manuel Cardoso e o resultado final da escrita é do mais rico que já tive. Depois, vai ser a minha estreia na realização, o que aumenta a responsabilidade, mas também a vontade de fazer mais e melhor. A produção é também mais cuidada em relação a programas anteriores. Vai ter a participação de imensos actores e humoristas cheios de talento e… estou desejoso que todos possam ver o programa. Estreia no final de Setembro, na Radical.
Testas piadas com alguém? Se sim, quem?
Não testo com ninguém. Se eu achar piada, basta-me.
José Carlos Malato, no Portugal no Coração, quando se referia a ti disse: “era mesmo daqueles de se lhe passar com um carro por cima”. Suponho que reações como esta ao seu trabalho são bastante frequentes. O que é que despertam em ti?
Rigorosa e absolutamente nada. É ruído, que ignoro. Não perco tempo a olhar para baixo, para trás ou para os lados.
“Há limites” é o argumento mais utilizado quando não se gosta de uma piada. Já existiram quaisquer limites às tuas piadas?
Quando a piada é boa, não há nenhum limite. Nada. Zero. A maior tragédia tem sempre um, ou vários angulos engraçados. Resta ter a capacidade de os encontrar. Às vezes acertamos em cheio, outras vezes nem tanto. É a vida.
Por que é que as pessoas confundem piadas com insultos?
Porque são estúpidas. E quando são confrontadas por outras pessoas que têm a capacidade de ter mais sentido de humor que elas, é pior, porque nesse momento, sentem-se ainda mais estúpidas. Não é raro ver pessoas sem sentido de humor a revoltarem-se mais com as pessoas que acham piada a coisas que eu digo, do que comigo. É uma defesa, uma reacção a um atestado de estupidez que lhes está a ser passado.
Acabaste um espectáculo teu com a seguinte frase: “Se alguém se sentiu ofendido com aquilo que eu disse hoje, quero-vos apenas dizer: vão para o caralho”. O que é que queres dizer com isto?
Ainda bem que me perguntas isso. Quero dizer, mais concretamente e explicando-me melhor, que acho que essas pessoas deviam ir para o caralho.
Numa entrevista disseste que nunca poderias ter sido jornalista porque és demasiado opinativo. Agrada-te o choque que as tuas opiniões provocam à audiência?
Não especialmente. Agrada-me mais observar que há opiniões que encontram seguidores em desconhecidos. Eu não procuro chocar nem ser do contra só porque sim. Penso que somos mais felizes quando encontramos pessoas que partilham os nossos sentimentos em relação ao Mundo, são farois de esperança numa humanidade perdida. Agora, se repararmos bem, a minha comunicação é 90% feita de piadas, que nem sempre representam opiniões.
Já tiveste vários espectáculos esgotados. A sala continua lotada no final?
Se agora saiu alguém da sala, eu não reparei. Esse fenómeno acontecia mais no início, agora é muito, muito raro. As pessoas já sabem ao que vêm, estão mais informadas, mais cultas humorísticamente, mais ousadas no que gostam e procuram. Há muita gente inteligente e intelectualmente evoluída, mesmo no interior do país. O meu publico core situa-se entre os 16 e os 35 e estamos a falar de pessoas que cresceram com a Internet, com os dvds encomendados pela Amazon e com o Youtube. A maior parte conhece humoristas mais ofensivos e arrojados do que eu e quase todos compreendem que os meus espectáculos são desenhados por um gajo que gosta de se rir da vida, sem merdas, projectados para quem está na mesma onda. E no final daquela hora, se tudo corer bem, vamos todos para casa mais satisfeitos. É só isto.
No workshop Escrita de Humor, consegues ver logo quem é que tem talento?
Consigo, mas isso não quer dizer nada. O mais importante não é descobrir o talento, mas sim adivinhar onde estará o trabalho, a dedicação, a estrutura e a persistência. Se uma pessoa tiver isto tudo e talento, pode fazer o que quiser na vida.
Quais são os objectivos a curto prazo que ainda não cumpriste?
Acabar esta entrevista. Olha, já está.
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