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SBSR 2016 | Dia 2 (15-07-2016)

Mais e melhores concertos no segundo dia do festival mas não conseguimos deixar de sair do MEO Arena com um nó na garganta

À entrada para o recinto apenas havia uma certeza, o calor não tinha arredado pé nem dava sinais de o ir fazer (e não o fez!). Tudo o resto era uma incógnita mas a verdade é que o balanço acabou por ser bem positivo com o nível dos concertos a subir relativamente ao dia anterior, e com algumas melhorias a nível do som nos vários palcos.

Sabe bem chegar a um palco e ter uma agradável surpresa com quem está a tocar. Foi assim com os  PISTA ontem, e não podia ter sido um melhor início. O trio do Barreiro trouxe consigo Alex D’Alva Teixeira que está um verdadeiro senhor no palco, com uma energia e boa disposição contagiantes. Em palco há uma bateria e duas guitarras que debitam canções a um ritmo frenético numa de rock-pop-tropical-psicadélico. A disposição esteve sempre presente ao ponto de começarem a enumerar Pokemons em palco (sim, até no SBSR).

É um MEO Arena a meio gás o que espera pelos londrinos Bloc Party. Há largos anos que a banda anda arredada dos tempos áureos de “Silent Alarm” e de “Weekend In the City”, em que as suas canções incendiavam uma plateia. De qualquer forma, o bichinho saudosista que por aqui reside decidiu dar-lhes uma oportunidade. O concerto arranca ao som de «Only He Can Heal Me», do mais recente “Hymns”. A segunda canção leva-nos a “Weekend In the City”; é a «Hunting for Witches» mas fica claro que a intensidade já não é a mesma, talvez fruto de da formação original apenas restarem dois elementos (Russel Lissack para além do Kele Okereke). Segue-se «Positive Tension» do “Silent Alarm” onde se canta “Something glorious is about to happen”… Aguardamos mas não acontece. Entretanto arranca a  «Mercury» e nós fazemos o mesmo em direcção ao palco da Antena 3.

Em representação de Barcelos vieram os Glockenwise. Quando se chega ao palco da Antena 3 a actuação já leva alguns minutos, visto que começou quase ao mesmo tempo dos Bloc Party, ali mesmo ao lado. Mas o ambiente ali é completamente diferente. Está em curso uma tremenda festa em que o rock’n’roll, puro e duro, é rei e senhor. À frente do palco há crowdsurf, devidamente apadrinhado pela banda ou não tenha “este festival rock no nome” e disponibilizam-se inclusivamente para “pagar a multa”. Boa disposição não falta. Entre o público a assistir encontram-se os Capitão Fausto que tal como nós estão a gostar do que vêem de cima do palco; uma bateria galopante e duas guitarras e um baixo que não dão descanso. Pontual mas de forma indispensável, surgem uns teclados que conferem o equilíbrio perfeito às canções.

Os últimos concertos de Rhye em Portugal granjearam-lhes uma sólida base de admiradores por cá e isso foi evidente logo no arranque do concerto no palco EDP. Foi uma visita rápida mas deu para perceber que o soul e R’n’B de Milosh e Robin Hannibal ia triunfar. São canções quentes, com arranjos bonitos mas minimalistas e com dois violinos a desempenharem uma papel importante nesta tarefa.

Vou começar pelo fim. Quando tiver 69 anos quero estar como o Iggy Pop. Que energia, que força, que presença. E que concerto. Houve rock (muito mesmo muito), houve “fucks” por tudo quanto era lado, seguidos de uns “babies”. E houve também a admiração profunda do público para com o artista, que foi enorme. O alinhamento foi feito quase só de clássicos, excepção feita a «Sunday», do mais recente e excelente “Post Pop Depression”, já no final do concerto. Antes disso houve passagens pela carreira a solo com a «The Passenger» mas também passagens pelo legado dos Stooges com «No Fun» e «I Wanna Be Your Dog», estas duas logo a abrir para pegar logo fogo a tudo. Em «1969» canta-se “Well it’s 1969 OK all across the USA”. Pelo meio há «Five Foot One» e canta-se bem alto “I wish life could be / Swedish magazines / I wish life could be / Anything”. Com «Real Wild One», um cover de Johnny O’Keefe & The Dee Jays, a casa vem abaixo (outra coisa não seria de esperar). É daqueles concertos em que conversar é perder momentos precisos em que se podia estar a cantar outra canção. Iggy é uma figura ímpar. A forma como se move em palco é desconcertante mas, ao mesmo tempo, isso confere-lhe esse mesmo cariz único. Longa vida ao rei!

Faz-se uma deslocação em passo acelerado para apanhar as últimas canções de Mac Demarco. O palco EDP está cheio. A única diferença para o MEO Arena é a média de idades que aqui é mais baixa. Em palco Demarco está a ser igual a si próprio. Um gozão nato. Alguém que vê em tudo uma oportunidade para se divertir e pelo meio canta umas deliciosas canções pop, condimentadas com o rock de uma guitarra que parece estar prestes a desconjuntar-se sem nunca o fazer e que ao mesmo tempo conferem toda uma identidade a estas canções. Desta vez não mostrou o rabo (pelo menos enquanto estivemos presentes) mas desafiou a que o maior número de pessoas se colocassem às cavalitas. Escusado será dizer que o pedido teve resposta quase imediata. E logo de seguida atira-se a «Chamber of Reflection». «My Kind of Woman» é dedicado a todos aqueles que estavam à espera da canção. Na mouche, Mac! «Still Toghether» surge no fim… “It’s easy love, fits like a glove from up above together”.

Os Massive Attack & Young Fathers tinham tudo a jogar a seu favor porque eram a única banda a actuar, o que lhes garantiu uma casa quase cheia. E as duas bandas não deixaram os créditos por mãos alheias. À primeira vista parecem uma colaboração improvável mas depois, se começarmos a pensar e a observar com mais atenção, percebemos que faz todo o sentido. A componente visual é fortíssima e funciona extremamente bem. Há dedicatórias às vítimas do atentado em Nice imediatamente antes de se escutar «He Needs Me» dos Young Fathers. O reportório apresentado é diverso. Passa-se em revista a carreira dos Massive Attack (o carisma de 3D e Daddy G continua lá!) e a (mais curta) dos Young Fathers. A mensagem política faz-se sentir a quase todos os momentos. Traça-se um retrato muito negro do nosso mundo. É um chamar de atenção. Um pedido para que as nossas consciências despertem. Para que deixemos de ser tão passivos. Há-que passar à acção. Nas mensagens, que passam em Português nos ecrãs há referências ao futuro da UE e do Brexit. É também referida a Turquia, o seu regime e o seu futuro como candidato a membro da UE, isto no momento em que decorria uma tentativa falhada de golpe de estado no País. «Inertia Creeps» causa arrepios. O mesmo acontece com «Shame» dos Young Fathers. Um belo concerto mas não conseguimos deixar de sair do MEO Arena com um nó na garganta. São tempos negros aqueles em que vivemos actualmente.



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