Vodafone Paredes de Coura | Dia 3 (18.08.2023)
Texto por Álvaro Graça e fotografia por Rui de Freitas.
Ao terceiro dia, o Palco Yorn abriu com a energia explosiva de Chinaskee, figura bem habitual em Paredes de Coura, dentro ou fora do palco. Com uma parte imagética bem personalizada, além do preâmbulo ao som da banda-sonora de “My Neighbor Totoro”, Chinaskee e seus cúmplices foram avançando por entre rajadas de distorção, ora acompanhadas de vocais mais vigorosos, ora de momentos mais melódicos.
Em seguida, no anfiteatro do Palco Vodafone, foi tempo de abraçar a chegada da incontornável chuva courense, ao som dos ritmos de afrobeat e sopros de jazz londrino (entre o restante vastíssimo leque de outras influências que abarcam) trazidos pelos fantásticos Kokoroko. Além da componente sónica, os bons espíritos emanados pelo colectivo a partir do palco, puseram facilmente a plateia num ambiente festivo, quase se assemelhando a uma dança da chuva conjunta.
Entretanto, o Palco Yorn continuava a acolher o contingente nacional desta trigésima edição do Vodafone Paredes de Coura, dando azo a mais uma gloriosa jornada no ainda jovem percurso dos Expresso Transatlântico. Com o disco debutante quase a chegar, o agrupamento encabeçado pelos manos Varela demonstrou novamente toda a riqueza do seu repertório original, havendo ainda tempo para uma viciante versão instrumental de «Eu Dantes Cantava», dando-se ao luxo de deixar de fora «Barquinha» (eventualmente por não terem Conan Osíris a bordo neste dia). Uma portugalidade tão criativa e abrangente que galga naturalmente as fronteiras da curiosidade e do encanto.
O público continuou boquiaberto no Palco Vodafone com a prestação de Domi & JD Beck. A qualidade e complexidade técnica destes jovens músicos imberbes é tanta que os apreciadores mais atentos (e não só) dão por si totalmente hipnotizados, tentando seguir os gestos e os cambiantes rítmicos e melódicos que vão decorrendo. O duo franco-estadounidense prefere deixar que as suas buriladas composições falem por si, embora a espaços dediquem breves instantes a contar alguns factos sobre esta ou aquela canção, aproveitando igualmente para confessar o seu entusiasmo por irem assistir a um concerto de Aphex Twin no dia seguinte, tendo-o materializado com uma interpretação bem curiosa de «Flim». “Foi apenas absurdo!”, uma das reacções mais exactas que escutámos mal de Domi & JD Beck saíram de cena.
Há séculos que não testemunhávamos à destruição de uma guitarra em palco, mas foi dessa forma que encerrou a malfadada performance dos Thus Love. Foi um gesto de frustração do vocalista/guitarrista Echo Marshall, que desde cedo sofreu de dificuldades técnicas originadas pelos seus pedais de efeitos, sem que tenha baixado os braços perante tais problemas enquanto houve tempo para tocar. O trio de Vermont, bem como o seu material sonoro, não mereciam, e fizeram questão do demonstrar, logrando uma exibição bem positiva apesar de tudo.
No mesmo palco secundário, apesar de convocados em cima da hora (devido à falta de comparência de The Last Dinner Party) a MAQUINA esteve mais que à altura do acontecimento, contando igualmente com uma boa falange de apoio à boca do palco. Foi com entusiasmo que a plateia acompanhava o desenrolar das suas pujantes tecelagens sónicas, sempre com pendor obscuro, que mesmo quando não acarretam explosões transmitem poder, sendo esse o seu verdadeiro pilar.
Quando os Black Midi entraram em palco foi quando a chuva começou verdadeiramente a engrossar, o que acabou por oferecer um ângulo ainda mais distinto à actuação dos britânicos. Embora não soando tão entusiasmantes e concisos como no Primavera Sound 2022, a ópera que os Black Midi operam dificilmente deixará de estimular, por ser tão diferente e tão bem executada.
Para fechar o Palco Vodafone na quinta-feira o Vodafone Paredes de Coura contou com Little Simz, indubitavelmente uma das artistas mais inspiradas e inspirados dos últimos anos. Pese embora tenha actuado sozinha durante a esmagadora parte do concerto, a vencedora do Mercury Prize 2022 não deixou de nos encantar com a sua poesia, que tão sumptuosamente embrulhada nos entra pelos tímpanos. Com a adição da dupla de música na recta final, a performance ganha sempre pontos, e permitiu a que Little Simz nos presenteasse com alguma versões mais acústicas e intimistas de alguns dos temas, mesmo os mais populares. A chuva não cessou, mas as palavras fortes de Simbi tampouco.
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Leiam aqui a reportagem do primeiro, segundo e quarto dia de festival.
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