XX Festival MED | Dia 1 (27.06.2024)
A abertura da vigésima edição do Festival MED fez-se a um ritmo bem frenético, mercê da cumbia rica e refrescante dos Kumbia Boruka, e do imparável ska-punk balcã dos Dubioza Kolektiv, tendo a noite arrancado com activismo criativo do supergrupo Cara de Espelho.
Em ano de edição redonda, estando em jogo os vinte anos do evento louletano, não admira que o Festival MED tenha demonstrado uma voltagem elevada quase desde o abrir das portas.
Todavia, dirigimo-nos inicialmente ao Palco Cerca, onde o supergrupo Cara de Espelho reflectia social e politicamente através das composições arquitectadas pelo prolífero Pedro da Silva Martins (autor e compositor de Deolinda, Ana Moura, António Zambujo, Lena d ́Água), com os pensamentos a fluírem pela marcante voz de Mitó, que demonstrou, com o seu bom momento de forma, que quem sabe nunca esquece. À inteligência e acutilância das palavras, e à inequívoca sensibilidade pop, junta-se a etnografia, essencialmente através das percussões e da parafernália instrumental que preenche o regaço do incontornável Carlos Guerreiro.
Foi no Palco Matriz, seguidamente, que a temperatura começou a subir, e as ancas e os pezinhos se foram soltando desalmadamente, com os ritmos incessantes dos Kumbia Boruka. O grupo multicultural, baseado em Lyon, mas com as veias no México, não parou de fazer saltar a plateia com a sua salada de cumbia, desde a mais tradicional até outras ramificações mais recentes, misturando-a por exemplo com hip-hop, logrando algo que nem sempre é simples: evitar que este género musical acabe por se tornar repetitivo ao final de uma mão cheia de canções, não obstante a sua cadência sempre viciante.
Fizemos nova passagem pela zona da Cerca, para apreciar por alguns minutos a electrónica localizada e interessante dos 47Soul. Um trabalho tão disruptivo que deu origem a um novo sub-género musical, o shamstep, que mescla danças tradicionais do Médio Oriente com elementos de música electrónica. Foi um momento mais hipnotizante, que serviu adicionalmente para recuperar o fôlego físico para o que o cartaz do primeiro dia do MED ainda nos reservava.
O largo da Matriz foi novamente o epicentro de mais um terramoto sónico, desta feita reclamando pelo Dubioza Kolektiv, que já não é um nome inteiramente desconhecido no nosso país, uma vez que os seus concertos electrizantes os têm feito galgar terreno. E terão coleccionado mais um lote alargado de fãs, após nova demonstração do seu poderoso ska-punk com temperos Balcãs, ao qual acresce a boa disposição e os pequenos detalhes que invariavelmente personalizam, consoante o local onde estão a actuar. O seu equipamento em tons fluorescentes, que nos recordam invariavelmente do Borussia Dortmund, funciona como a bola de espelhos de uma discoteca rock.
Desafortunadamente, dados os pingos de chuva que parecem perseguir os festivais de Verão nos últimos tempos, os concertos marcados para a recta final do dia inaugural tiveram que ser cancelados, de forma a garantir que o material dos artistas em questão não sofreria danos evitáveis. Ainda assim, o pulso da primeira jornada fez-se sentir de forma vincada.
Fotos: Festival MED
Leiam aqui as reportagens do segundo e terceiro dia do festival.
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