“A História dos Bonobos com Óculos” | Adela Turín

“A História dos Bonobos com Óculos” | Adela Turín

Lições de igualdade na floresta de paletúvios

No dia em que as bonobas se cansaram de colher frutos e bagas, nozes e sementes, raízes e rebentos, para os bonobos e bonobinhos, e se mudaram para outra floresta, nada naquele lugar voltou a ser como dantes. Era um tempo longínquo em que as bonobas eram, apenas, as mulheres dos bonobos e as mães dos bonobinhos. Um tempo em que os bonobos conversavam enquanto elas procuravam a comida, comiam o que elas colhiam, viajavam para estudar e regressavam mais cultos e modernos para a floresta de paletúvios onde todos viviam. Um tempo que já lá vai. Ou talvez não.

Cansadas de serem ridicularizadas pelos bonobos, que agora até usavam óculos de sol e sabiam novas palavras numa língua estrangeira, as bonobas mudaram-se de armas e bagagens para uma floresta vizinha. Por lá recriaram o mundo à sua maneira: mais limpo, organizado e confortável, inundado pelo som da música que tocavam e do cheiro das ervas aromáticas que plantavam.

“A História dos Bonobos com Óculos” | Adela Turín

Do outro lado, os bonobos viram-se obrigados a tirar os óculos de sol para procurarem, por dias inteiros, a comida que lhes faltava e que nem sabiam reconhecer, numa espécie de lição batida do dar importância ao que se tem apenas quando se perde.

A História dos Bonobos com Óculos” (Kalandraka, 2013) é uma história que já lá vai. Ou uma história de hoje. Dos tempos que correm, das vidas que se vivem e dos relatos que se ouvem. Um tempo em que bonobas – trabalhadoras, mulheres e mães – colhem frutos e bagas, nozes e sementes, raízes e rebentos, para os seus bonobos e bonobinhos.

A fábula de Adela Turín, escritora e historiadora de arte que se dedica desde 1960 ao tema do sexismo na literatura infantil, faz parte da coleção “Dalla parte delle bambine”, publicada em Itália há mais de 30 anos, que se transformou numa referência na educação para a igualdade. Chega agora a Portugal, talvez para que os bonobinhos que a escutam se tornem em bonobos e bonobas que colhem, conversam, comem, viajam, estudam e se modernizam, de igual para igual, sem precisarem, no futuro, de se separarem na floresta de paletúvios.



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