Anna B Savage | Entrevista
À conversa com Anna B Savage, que se apresentará na Galeria Zé dos Bois, a 24 de Junho, pelas 21H.
Em Janeiro do presente ano, Anna B Savage lançou o seu mais recente trabalho artístico “You & i are Earth”. Dez canções que celebram o amor e a sua existência em pleno; dez letras-poemas que se fundem na verdade de quem ama e que, por conseguinte, sabe esse sentimento de cor.
Fazer da música um lugar comum, enquanto se escuta uma voz profunda, sem fundo (porque infinita), e fundada (com propósito). É assim que se sente (e vivencia) a arte de Anna B Savage. Na certeza de que, o desamparo que, por vezes, surge, acaba sempre por nos levar onde queremos e precisamos de chegar.
Este novo álbum redirecciona-nos, como se nos falasse apaixonadamente, com a consciência de que um compromisso que advém de tal imensidão, requer uma duração imperturbável e perdurável para lá do tempo e do espaço – apesar da assertividade com que se mostra e circunscreve, seja a um tempo ou a um espaço.
Melodias que são organismos vivos, que nos nutrem e nos fazem florescer. Anna B Savage é, efectivamente, a voz de quem ama – não fosse inteira, um horizonte alcançável, plena de urgência e de presença.
A artista estará em concerto com Daphné Chenel, no dia 24 de Junho, pelas 21H, na Galeria Zé dos Bois. As portas abrem às 20H30 e os bilhetes custam 12€.
A Rua de Baixo esteve à conversa com a cantautora – um floreado de questões e de respostas que podem ler de seguida.
Obrigada, Anna. Boas escutas!
RDB (Rua de Baixo): Quais foram os teus maiores desafios no início da vida artística e como os ultrapassaste?
Anna: Honestamente, houve desafios difíceis – desde logo, eu mesma; e, por outro lado, o facto de não conhecer ninguém e de não saber como “entrar na indústria”. Apercebi-me de que esperar por uma mudança “sentada” não me iria ajudar, então continuei a escrever e a tocar, até começar a gravar, apesar de a minha consciência me dizer que eu não era boa o suficiente. Ainda há vezes em que os meus pensamentos me contrariam, mas a verdade é que, de momento, existem coisas que aquietam estas sensações menos boas. Por exemplo, ter já lançado três álbuns. Relativamente à “indústria”, fui fazendo muitos open mic, fui assistindo a vários concertos ao vivo, conhecendo muita gente às quais me dei também a conhecer como artista. Lentamente, os círculos concêntricos começaram a estreitar.
RDB: Como manténs a inspiração artística com o decorrer dos anos?
Anna: Acredito que há muita coisa que nos inspira. No entanto, também acho que acredito nisso porque, para mim, a inspiração é algo que não pode vir do exterior. É como se fosse um músculo, o qual precisa de ser usado e trabalhado.
RDB: Como é o teu processo criativo aquando da criação de novas canções?
Anna: Tenho um caderno bastante extenso desde mais ou menos 2010 onde anoto ideias que eu gosto para letras, poemas, canções. Qualquer coisa, na verdade. Depois, vou tocando na minha guitarra até encontrar uma progressão de acordes que gosto, por exemplo. De seguida, vou aprimorando e aprimorando. Também me é útil “documentar” a evolução das canções, assim sempre que me sinto preocupada com a possibilidade de não conseguir escrever canções, volto “atrás” e apercebo-me que é um processo contínuo e que não posso parar.
RDB: O que pensas sobre rituais artísticos? Tens algum(ns)? O que é que significa(m) para ti?
Anna: Na verdade, não tenho nenhum, apesar de que gostaria de. Eu acho que, de modo geral, eles podem ser muito bons para nos colocar num mindset específico. E, sobretudo, numa altura em que estamos sobrestimulados pelas redes sociais, eu acho que é uma boa ferramenta. Vou pensar em alguns para adoptar a partir de agora.
RDB: Quem é a Anna deste álbum? Sobre o que fala este álbum, qual a história que conta?
Anna: Eu acho que a Anna deste álbum está apaixonada e, de modo geral, satisfeita com uma vida simples e feliz. O álbum fala acerca do meu novo amor, do meu enamoramento com um país e com o facto de lá viver, e do meu entusiasmo generalizado pela natureza.
RDB: O que eu sinto deste álbum é que é uma carta de amor. Como é que o amor te inspirou na concretização do mesmo?
Anna: É absolutamente uma carta de amor – ao meu companheiro e à Irlanda. Eu penso que é bonito escrever sobre coisas apaixonantes, sobretudo no momento em que estou a viver. Todos nós precisamos de um pouco de delicadeza e eu quis partilhar a minha.
RDB: Quais são as tuas urgências criativas e de que forma as concretizaste neste álbum?
Anna: Urgências criativas! Oh, não sei. Eu acho que realmente gosto de fazer coisas, e neste álbum fui eu a fazer algo que me apaixona. Além disso, foi excitante trabalhar com muitos músicos que conheci, e fazer música de uma forma mais colaborativa e expansiva, isso foi uma alegria.
RDB: Como consegues conciliar a tua visão artística com os elementos e técnicas musicais que utilizas? Como exemplo, fiquei bastante interessada nos sons das ondas que usaste na canção “Talk to Me”.
Anna: Obrigada. Eu sabia que este álbum teria de ter efeitos foley e que, ao mesmo tempo, toda a instrumentação teria de ser acústica. Sem sintetizadores, pedais, ou algo do género. Esses sons que referes são, de facto, o meu baterista maravilhoso Joe Taylor na caixa. Há mais exemplos disso – instrumentos a mimetizar sons da natureza, e eu queria que isso fosse mesmo assim. Sinto que é uma coisa muito humana.
RDB: Qual foi a canção mais difícil de conceber neste álbum?
Anna: A canção que mais demorou a ser feita foi, provavelmente, a Donegal. Escrevi-a durante três anos. Acho que isso aconteceu porque estava a fazer a mesma enquanto a história que a mesma conta estava a acontecer, então pareceu mais difícil de a terminar ou de a resumir completamente.
RDB: O que virá?
Anna: Honestamente? Não sei. Quero continuar a fazer coisas e com pessoas boas. Na verdade, esse sempre foi o meu modus operandi e assim espero que continue a ser.
RDB: Fala-me de uma canção guilty pleasure.
Anna: Eu não acredito em guilty pleasures. Mas existem muitas coisas que eu gosto que as pessoas consideram embaraçosas. Nesse sentido, talvez a coisa mais recente esteja relacionada com algum teatro musical. “Waving through a window”, do Dear Evan Hansen. O Ben Platt é um dos cantores mais competentes que já ouvi; então, quando o ouço, tento cantar com ele, fazendo as acrobacias vocais que ele faz (não fico nem perto).
RDB: Se pudesses passar um dia com algum(a) músico(a), quem escolherias e porquê?
Anna: Quincy Jones. Ele parecia ser o humano mais vibrante, um bom mentor, e alguém com quem seria fácil de colaborar. Seria incrível poder conversar com ele – se, claro, o meu nervosismo o deixasse…
RDB: Fala-me de um “talento escondido” que tenhas.
Anna: Tenho um talento para desenvolver novos hobbies e capacidades, chegar a um certo nível, parar e, aparentemente, nunca mais retomar. O que eu digo a mim mesma, pelo menos, é que isso acontece porque vou estando em tour muito tempo…
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

Artigos Relacionados