BONS SONS 2024 – Casa sem tecto Amália.Foto: Carlos Manuel Martins

Bons Sons 2024 | Dia 1 (08.08.2024)

Devido a constrangimentos logísticos, não nos foi possível alcançar a aldeia mais cedo, mas o reviver aquela entrada em Cem Soldos ameniza imediatamente o espírito, e ainda fomos a tempo de ter um vislumbre das cores alegres com que os Zarco pintaram o rejuvenescido largo.

Ao cair da noite foi tempo para um espectáculo diferente, pelo menos no que a festivais diz respeito. Mas o Bons Sons não é um festival propriamente comum. Quis Saber Quem Sou — Um Concerto Teatral, concebido por Pedro Penim, chegava ao Palco Zeca Afonso, nem de propósito, após um périplo por diversas salas nacionais. Entre teatro e dança, revisitaram-se palavras revolucionárias, invocando os seus autores e heróis, não apenas nacionais, mas igualmente além-fronteiras. Há que espalhar a notícia para que, depois do adeus, não se volte a dizer olá às amarras sócio-políticas.

Era bem densa a multidão que acorreu ao Palco António Variações para assistir à exibição dos Ganso, sendo quase impossível atravessar para a primeira metade do perímetro. A banda da família Cuca Monga aterrou no Bons Sons com um novo registo de estúdio à beira de sair, não sendo estranho, portanto, que tenham desvendado um par de temas a incluir nesse disco, que se denominará “Vice-Versa”, numa prestação igualmente marcada por um tom jam session, explanando os dons e o inegável groove dos diversos executantes em acção. A envolvência criada pelos teclados envolve-nos com enorme facilidade, tornando familiares mesmo as canções que escutamos pela primeira vez.

O Palco Lopes-Graça voltou a chamar toda a gente ao largo para o espectáculo kitsch-popular de Cláudia Pascoal, que seguiu o guião delineado para a corrente digressão de “!!”. Porém, esse guião rouba demasiada espontaneidade à experiência, o que nem sequer condiz com a figura da autora, que normalmente prima pela energia e autenticidade. Algo a que também não ajudou o excesso de sons pré-gravados, dado que apenas figuravam mais dois músicos em palco. Não que seja extremamente desagradável (wink wink), longe disso, mas o trabalho de Cláudia Pascoal tem potencial para ofertar algo mais interessante.

Culminámos esta primeira incursão pelo Bons Sons 2024 com o regresso ao Palco António Variações, no qual apestava-se para orar o mestre Valete. Alguém que utilizou o seu tempo de antena para homenagear vultos da cena hip-hop tuga, sendo ele o único representante do cardápio deste ano do Bons Sons, e ainda para dar palco a diversos convidados, que naturalmente enriqueceram a performance, trazendo desde barras à inesperada kora que tão bem funcionou. Valete teve ainda a chance de mostrar um pouco daquilo que tem no forno, e que provavelmente partilhará ainda antes do final do ano, e que valerá como seu aventurar do terreno do jazz rap, rentabilizando a companhia de malta das águas do hip-hop mas que possui formação em conservatório e produção. Pela amostra, promete ser bem cool e aliciante.

 

Encontrem aqui todas as reportagens do Festival Bons Sons.



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