FMM Sines 2024 (27.07.2024)
Como seria de esperar, o Sábado recolheu a multidão mais vasta para o concerto da tarde, que nos restantes dias ficou aquém do habitual. Talvez o público ainda não se tenha acostumado ao horário das 18h, embora essa alteração feita em 2023 nos pareça positiva.
JP Simões era o primeiro a intervir, trazendo na algibeira o espólio de José Mário Branco, num período em que faz ainda mais sentido mantê-lo vivo. Certamente pela responsabilidade que uma homenagem destas envolve, o músico manteve uma toada concentrada e menos desconcertante, embora a boa resposta do público e o avançar do concerto o fossem soltando minimamente.
O início da noite fez-se também em língua portuguesa, com Mayra Andrade a levar até ao castelo de Sines o espectáculo “reEncanto”, no qual reinterpreta num modelo intimista o seu repertório. Se inicialmente duvidámos da eficácia num terreno mais virado para a euforia, foi extremamente bonito o resultado das suas canções revistas apenas com voz e violão, este eximiamente manuseado por Djodje Almeida, com um nível de química acima da média. O cenário apresentado em palco, representado uma espécie de sala de estar, fazia a plateia sentir-se ainda mais envolvida e abraçada. Um dos momentos altos desta edição do FMM.
Mais tarde houve palco para a luxúria do som construído por Adédèjì, sempre alicerçado no tesouro que é a sua guitarra, mas acompanhado de forma superior, desde os sopros aos coros. O nigeriano levou-nos numa viagem, mantendo as gentes sempre à tona para apreciar da melhor forma aquilo que íamos visitando, desde o funk aos blues, com a tradicional yoruba presente na bússola. O embrulho é requintado e o conteúdo fez perfeitamente jus ao mesmo.
Provavelmente ninguém no público esperava um dia presenciar uma performance absolutamente efusiva que contasse com as marimbas como motor da mesma, mas a verdade é que foi o que sucedeu no derradeiro acto no castelo. A saudável loucura e energia de Son Rompe Pera contagiou todo o mundo, tendo momentos de autêntico concerto punk rock.
Curioso como, bem na recta final, a edição de 2024 completou o círculo com a anterior: se em 2023 o hino do festival foi a versão do tradicional «Cariñito», este ano o clímax aconteceu com a reinterpretação desse mesmo tema pelos Son Rompe Pera, que culminou com um gigantesco coro, que ecoou para o exterior das muralhas seguramente.
Ao nos despedirmos do palco da zona da praia, houve ainda a chance de testemunhar o som experimental e visceral de Avalanche Kaito. Trouxeram-nos imediatamente à lembrança o ideal de Throes + The Shine, misturando correntes africanas com outros mais europeias, tratando-se neste caso da sonoridade urbana do Burkina Faso oferecida pelo frontman Kaito Winse, e do rock experimental injectado pelo guitarrista belga Nico Gitto e o baterista francês Benjamin Chaval, que acaba por tornar esta aventura mais cerebral do que corporal.
Encontrem aqui todas as reportagens do Festival Músicas do Mundo 2024.
There are no comments
Add yoursTem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
Artigos Relacionados