“Chama-me Pelo Teu Nome” de Luca Guadagnino
Ainda há histórias de Amor.
Elio, interpretado por Timothée Chamalet, é um rapaz em plena adolescência. A sua personalidade reflecte o seu nome, mais leve que o próprio ar, conduzido pelas emoções, liberto das convenções sociais.
Elio, os pais e os amigos passam os meses de verão numa quinta no norte da Itália, país ligado à cultura greco-latina e judaico-cristã. O realizador Luca Guadagnino, retrata essa quinta como um Éden, um local em que o Homem ainda não conheceu a sua queda. O jardim que rodeia a casa lembra o Jardim do Paraíso, imagem que representa um estado de perfeição, felicidade e pureza, transversal a tantas culturas e religiões. É aqui que Elio e os amigos passam o dia, à sombra das árvores ou alimentando-se dos seus frutos, tomando banho na piscina ou jogando vólei. Os frutos, alperces e pêssegos, são vermelhos e amarelos, cores quentes, cores da estação estival. Num momento da narrativa até é explicada a raiz da palavra “alperce”, expressão do latim, que depois foi adaptada pelos gregos, bizantinos e árabes. A casa tem sempre as janelas e portas abertas, ouvindo-se o som dos pássaros e das cigarras. O conhecimento alinha-se nas prateleiras, e a música clássica passa no gira discos e toca-se no piano. Todos que ali habitam falam línguas diferentes e todos entendem-se, vivendo um estado pré-babilónico de comunhão.
Nesse verão o pai de Elio convidou um aluno seu, Oliver, interpretado por Armie Hammer. O seu nome significa azeitona, fruto da oliveira, de onde se obtém o azeite. A oliveira é nativa do mediterrâneo e do próximo oriente, por isso o azeite tem para estas culturas significado de pureza e luz. Elio e Oliver, apanhados nas teias das Moiras ou Parcas e vivem uma paixão que lembra as peças de Shakespeare: superados os desencontros, a noite recebe-os como recebeu Romeu e Julieta. Mas este é um amor ensombrado. Ao passo que Elio vive num ambiente que aceita as suas escolhas, Oliver não cresceu com essa liberdade. Oliver é um convidado naquela quinta, naquele jardim. Esta paixão propõe-lhe um desafio, será ele capaz de a viver sem receio de ser julgado?
O realizador italiano, o argumentista James Ivory e o autor do livro onde este filme se baseia André Aciman, criaram uma obra de uma ternura comovente. Elio é a metáfora de como seria a Humanidade se fosse conduzida pelo Amor e pela partilha da sabedoria, em que não existissem categorias ou expectativas. Nele reside uma crença intocada pelo fatalismo, uma força que desconhece o fracasso. A universalidade, a verdade e a intensidade dos sentimentos retratados neste filme é tocante.
“Chama-me Pelo Teu Nome” tem quatro nomeações para os Óscares e para os BAFTA, das quais destaca-se a de Melhor Filme. Considerado pela revista “Sight and Sound” um dos melhores filmes de 2017.
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