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COCOROSIE

Ao vivo no CCB

Quem se dirigiu para o Centro Cultural de Belém para assistir a mais um regresso das Cocorosie ao nosso país, sabia que uma actuação como a de Paredes de Coura, em 2004, não se iria repetir. È que esse concerto foi uma daquelas alturas em que os chacras do nosso universo (e dos outros) se alinharam por capricho dos deuses, para proporcionar um momento de magia ímpar: no meio de uma semana de intempérie violenta, qual dilúvio bíblico, os céus secaram-se por uma hora e as nuvens abriram-se para dar lugar a um sol tímido, que abrilhantou o cenário idílico em que as irmãs Casady se apresentaram.

No entanto, as manas Sierra e Bianca também já mudaram bastante desde essa altura, em que andavam a promover “La maison de mon rêve”, o disco de estreia. Do new-folk estranho e lo-fi já há muito pouco; mantém-se o espírito ingénuo, onírico e infantil, mas a música é agora uma (dream)pop mais preenchida e cheia, com efeitos e acabamentos orgânicos. Isso viu-se, por exemplo, em “Terrible angels”: apesar de manter aquela genialidade cândida, os silêncios entre a guitarra acústica e a voz de anjo de cana rachada de Bianca foram ocupados por um trompete que, apesar de não soar mal, não conseguiu deixar de mostrar alguma impertinência.

Esse trompete foi culpa de Gael Rakotondrabe, que juntamente com Marc Lacaille, compõem a banda que acompanha em palco a dupla. Mas a grande diferença das Cocorosie prova-se com a forma como terminou o concerto: em celebração, despoletada por “Japan”, com Sierra a dançar junto das pessoas, as suas amigas a invadirem o palco para ocuparem os backing vocals e o público, incentivado a manifestar-se como se fossem animais da selva, a saltar das suas cadeiras! A folk lo-fi das Cocorosie mutou-se numa festa pop, que, felizmente, continua a ser feita do sabor do Natal, do cheiro dos bolos da nossa infância e de outras recordações nostálgicas. Uma trip cósmica de algodão doce, onde nem sequer faltam os vídeos dos Ursinhos Carinhosos, na componente vj.

“God as a voice, she speaks through me”, recente single das Cocorosie, mostrou como este universo é aquele onde é feita a música de “Coconuts, plenty of junk food”, o mais recente ep da dupla, onde o vocoder popularizado por Cher, em “Believe”, até soa mais ou menos bem. “Beautiful boyz” (aqui sem Antony) mostra, por exemplo, como também há vida para além de “La maison de mon rêve”, como alguém já disse algures. Outra novidade é o piano de cauda, que dá um toque mais jazzy a algumas baladas e que parece ter lá sido colocado especialmente para “Milkman”, tema que parece jazz para quem não gosta de jazz.

No final, aproveitando a celebração que ainda se vivia no ar, as Cocorosie voltaram ao palco para encerrarem a actuação com uma manifestação de energia sexual, com uma espécie de scratch num vídeo do youtube bastante surreal, em que uma senhora junto a uma lareira explicava como se devia respeitar e tocar a sua vagina. Mais estranho foi o grito do Ipiranga das manas Cassidy a rematar – “Vagina power!”. Nada a ver com os póneis e o algodão doce do resto do concerto.



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