Estúdios
3 semanas, 3 espectáculos. Improviso e experimentação no Teatro Maria Matos.
Foi há três anos, em pleno mês de Agosto, quando a neve subitamente caiu sobre Lisboa, sobre o Rio de Janeiro e sobre todos os outros lugares. Desde então, não parou de nevar, e todos os dias sete artistas, portugueses e brasileiros, tentam criar o próximo espectáculo, enclausurados no Teatro Maria Matos. É mais ou menos este o mote de “Sempre” o primeiro de uma série de três espectáculos criados no espaço de uma semana. “Estúdios” é o nome do projecto sem rede, em improviso, onde tudo pode acontecer. Todas as quintas-feiras, um novo espectáculo. Amanhã estreia o segundo desta série, intitulado “Pedro Procura Inês”. Em cena até 18 de Julho.
Três artistas portugueses e quatro brasileiros, aceitaram o desafio proposto pelo Teatro Maria Matos em parceria com a companhia Mundo Perfeito: criar três espectáculos, cada um deles no espaço de uma semana. O resultado são sete artistas em palco que vasculham memórias, trocam ideias, partilham experiências, na esperança de superar o desafio e criar pontes entre Lisboa e o Rio de Janeiro. «A ideia para este ciclo surge a partir de um diálogo entre o Teatro Maria Matos e o Mundo Perfeito. Já no ano anterior, quando surgiu a primeira edição do Estúdios, a definição para este projecto era a de ser um projecto regular, anual, que aconteceria todos os anos no Verão no Teatro Maria Matos, organizado pelo Mundo Perfeito, e que tinha como ideia essencial a de estimular colaborações entre artistas portugueses e estrangeiros da área do teatro. Nesta segunda edição achámos que seria interessante desafiar artistas brasileiros do Rio de Janeiro onde há uma cena contemporânea teatral muito forte, e com muitas afinidades com o teatro contemporâneo que se faz em Lisboa», conta Tiago Rodrigues, actor e director artístico do Mundo Perfeito.
O Teatro dentro do Teatro
Tendo como base o trabalho de improvisação e a criação artística sem rede, cada um dos espectáculos é diferente do outro. O primeiro deste ciclo, “Sempre”, conta a história de sete personagens que perdem os seus entes queridos depois de nevar subitamente e fora de tempo em Lisboa, no Rio de Janeiro, e noutros lugares do mundo. As histórias cruzam-se, mas as identidades também, já que o mote principal é a própria criação artística. Por isso, em todo o ciclo a realidade cruza-se com a ficção. Uma história feita de fragmentos que podem ligar-se entre si, mas que deixam sempre espaço para a reinvenção em palco, com o público. No fundo, é um ciclo que reflecte sobre o processo criativo, o Teatro dentro do próprio teatro. «São espectáculos que, independentemente do tema que tratem e do tom que utilizem para o tratar, estão sempre a contar a história de só haver uma semana para preparar o espectáculo que deve ser apresentado naquele momento. De alguma forma, o teatro está sempre presente de como o fazemos e engloba uma série de temas que nos ocupam, que têm elos em comum e que lançam pontes entre nós, os artistas», explica Tiago Rodrigues.
Todas as quintas-feiras, um novo espectáculo é encenado. Amanhã estreia “Pedro Procura Inês” em cena até dia 18 de Julho e, a fechar o ciclo vai estar “Bobbby Sands Vai Morrer Thatcher Assassina”, para ver até 25 deste mês. Sobre os títulos, foram todos encontrados nas ruas de Lisboa, grafitados nas paredes, o que também faz deste ciclo um projecto urbano. No entanto, são apenas isso, títulos, e não encontram eco nos temas das histórias encenadas em palco. «Todos os títulos desta série de espectáculos são retirados de grafittis que foram fotografados nas ruas de Lisboa. Das dezenas de frases que recolhemos na rua, achamos que essas três eram estimulantes, mas os espectáculos não têm correspondência com o título e muito menos com qualquer outro projecto artístico», diz Tiago.
Criar sem rede
Há um método seguido todos os dias pelos artistas durante uma semana, até à apresentação do espectáculo ao público. Lançam-se ideias, trocam-se experiências, escrevem-se coisas, desenham-se coreografias em palco, dança-se, mexe-se o corpo. «A estratégia essencial é muita abertura, muita escuta das propostas dos outros, muita disponibilidade, muitas horas de trabalho por dia, e muito tempo no palco a experimentar todas as grandes, pequenas e médias ideias que são lançadas ao longo da semana para chegar a um espectáculo que seja uma contrução feliz e que ainda assim tenha muito espaço e muita liberdade para ser preenchida com a presença do público».
Tal como em qualquer outro espectáculo em que a improvisação está presente, o público é uma peça essencial. É o barómetro do trabalho criativo dos artistas e do próprio espectáculo que se vai moldando em função das reacções daqueles que assistem da plateia. «Aqui a presença do público é essencial porque vem preencher um espaço de estimulo para improvisar, contar uma determinada história, encenar uma determinada imagem e fazer isso dialogar com o público e gerar nele uma narrativa».
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