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Francisco Eduardo Cruz

Sou copião. E depois?

Francisco Eduardo Cruz nunca se importou que o acusassem de copiar. Os desenhos que cria à semelhança e escala do real revelam um desenhador exímio com uma capacidade de observação e reprodução quase desumana. E, quem diria? Tem um irmão gémeo.

Na infância, era uma criança que não dava trabalho. Davam-lhe um lápis e, como dizem normalmente, “não havia menino”. Desde então, a observação, a cópia, o empenho e a dedicação trouxeram-lhe a capacidade de reproduzir fielmente aquilo que vê.

Francisco Eduardo Cruz, natural de Aveiro, é um dos artistas proeminentes do norte de Portugal que colabora com vários projectos de desenho, ilustração e vídeo um pouco por todo o país. Trabalha com a agência de comunicação FNYHoW em Lisboa e desenvolve também projectos de net-arte.

Licenciado em Artes Plásticas pela Universidade de Belas Artes do Porto, quando não está acompanhado pela grafite e pelo papel, vê finais de futebol, vai ao cinema, convive com a família e amigos, e vai à discoteca ver se alguém o “pega”. Ele anda pelos bares Europa em Lisboa e Tendinha no Porto e confessou que recentemente anda “pro” na cozinha. O contacto está no fim da entrevista.

Certamente os aviões, casas e carros dos teus desenhos de criança destacavam-se entre os dos teus colegas.

Não, porque só desenhava cowboys e cavalos. Por vezes, havia uma casa lá atrás. Nunca senti grande diferença entre os meus desenhos e os dos meus colegas. Apenas imaginários diferentes. O meu imaginário de miúdo foi muito povoado por ambientes Western. Adorava cavalos e a pose de espera de dois cowboys em duelo a ver qual sacava primeiro a pistola. Treinava esta última com o meu tio, vezes sem conta. Acho que todos os miúdos desenham. Já nem todos lêem ou escrevem, mas isso é para outra pergunta.

Desenhar sempre fez parte do teu quotidiano ou houve um momento em que te apercebeste que este era o teu caminho? Tens familiares ligados ao desenho? Como foi o início?

A minha mãe desenha muito bem. É designer gráfica e começou a exercer a profissão numa altura em que ainda se fazia tudo à mão. Ensinou-me muito sobre desenho e composição, basicamente mostrando-me e encaminhando-me para imagens e referências que gostava. Educou muito o meu gosto. Tenho um irmão gémeo que começou a ler e a escrever sozinho muito novo. Com três anos, o Joãozinho era já um génio. Eu, muito intrigado, perguntava à minha mãe por que é que eu não sabia. A minha mãe dizia-me que era cedo e punha-me a desenhar. E portanto, este foi o motivo que fez com que eu desenhasse com regularidade.

A fiel representação do real feita a lápis foi, desde o início, a tua marca ou foste experimentando outras vertentes e materiais? Conta-me a tua evolução.

Era inicialmente um exercício em que o resultado me trazia muito gozo – o de tentar fazer parecido. Este exercício de cópia treinou muito a minha capacidade de olhar e rapidamente reproduzir numa folha, com as mesmas dimensões, formas e cores. Adoro copiar. A minha mãe dizia muitas vezes em desabafo – “Nós fazemos aquilo que vemos fazer”.

Sei que estiveste associado a projectos que te levaram a trabalhar noutras vertentes artísticas. Quais foram (projectos e vertentes) e de que forma contribuíram para o teu desenvolvimento enquanto artista?

Tive sempre vontade de fazer mais coisas para além do desenho. Gosto de criar situações, que por sua vez despertem reacções. Gosto que aconteça alguma coisa! Como por exemplo, tirar as faixas das galerias da rua Miguel Bombarda e substituir 17 delas com o meu nome, que contribuiu não só para eu e mais cinco ou seis pessoas passarmos uma noite cheia de adrenalina, como também para construirmos um belíssimo projecto individual. O “Projecto Individual”, era como lhe chamávamos, foi importantíssimo para o nosso desenvolvimento enquanto pessoas.

Que problemas e dificuldades encontra um artista hoje em dia?

Um artista, normalmente, não tem dinheiro.

E no Porto?

No Porto, um artista também não tem dinheiro, mas já está habituado.

Onde e como procuras inspiração? Na rua, na solidão, nos amigos, na internet…? Qual tem sido a tua ultimamente?

Não lhe chamo inspiração. Mas a minha vontade parte sempre de viver com outros. Procuro sempre envolver toda a gente nos meus projectos. Por exemplo, esta resposta foi o Jorge que fez.

Vejo que a maioria dos teus desenhos são realizados numa escala de cinzas. Renegaste às cores? Porquê?

Também desenho a cores, mas gosto muito da textura da grafite, e do “à vontade” que ganhei com esse material.

Há muito detalhe, cuidado e trabalho nos teus desenhos. Sofres de tendinite na mão?

Não, porque também desenho com a mão esquerda e dou uns toques com os pés (risos).

És particularmente cuidado e meticuloso no teu trabalho. É um reflexo da tua personalidade?

De todo que não. Sou muito esperto, mas muito despistado, e muito trapalhão às vezes. Mas se me empenho… é outra conversa. Eu que não cozinho muito, por exemplo há uns dias atrás empenhei-me meticulosamente numas pataniscas de bacalhau com arroz de feijão. Cuidado!

Conta que projectos tens na manga a curto e longo prazo.

De momento estou a trabalhar numa agência de comunicação não convencional em Lisboa. Chama-se FNYHoW. Temos uma equipa excelente e fazemos acontecer muita coisa. Podem ver o nosso trabalho no site. Desenvolvo um projecto que se chama net-arte, o qual é enviado para a minha mailing list de tempos em tempos (um exemplo de uma net-arte é o meu site).

Estou a tentar juntar dinheiro para alugar mensalmente um outdoor no segmento do meu projecto “A minha cena é outdoor”. Relativamente ao desenho, fala-se numa exposição em Lisboa para breve num casino conhecido, e parte das ilustrações que tenho são criadas em conjunto com o meu amigo Dinis Santos.

E daqui a uns anos, se não tiveres o saldo que esperavas na conta bancária, ir para Tenerife fazer caricaturas de turistas pode ser uma opção?

Não me parece. Nunca gostei muito de caricaturas e Tenerife também não seria um destino que escolhesse. Antes me vejo a vender cocktails de fruta numa ilha da Croácia e muito, muito rico de espírito :)

Nota: Para futuras encomendas de ilustrações, desenhos, vídeos ou pataniscas de bacalhau com arroz de feijão por favor contactar Francisco Eduardo Cruz através do e-mail franciscoerc@gmail.com.



Existe 1 comentário

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  1. patbar

    Dei um saltinho em sites que têm works do Francisco, incluindo a beleza em grafitte do elefante, juntamente com Dinis Santos. Gostei da entrevista ;)
    E ganhar dinheiro com caricaturas em Tenerife?
    Mais valia ir para uns recantos mundiais fazer umas belas representações de tribos (paineis tamanho real) Riqueza de espírito. Era uma ideia ;) Mas lá 'tá… o dinheiro.. coiso.

    Continuação de bons projectos.


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