Fun. | “Some Nights”
Já não se fazem boys bands como antigamente (e ainda bem)
“Some Nights”, o segundo longa-duração dos nova-iorquinos Fun., é um falso disco gravado ao abrigo do estatuto das boys band, que parece condenado a tomar conta de tabelas de vendas um pouco por toda a parte.
Atentemos na capa. Apesar do belo par de pernas que vemos cruzado e sobre o qual umas mãos com unhas cor de sangue seguram um copo de néctar dos deuses, há uma outra personagem que nos aparece denunciada pela chama de um isqueiro e que está a fazer qualquer coisa menos acender uma vela.
“Some Nights” resultou da colaboração entre a banda e o produtor de hip hop Jeff Bhasker, transformando-se numa espécie de “My Twisted Dark Fantasy” para uma adolescência rebelde abraçada por batidas urbanas e movendo-se ao som da percussão militar.
Musicalmente encontramos um pouco de tudo, entre cordas, sopros, coros, sintetizadores e caixas de ritmos que dão o ar de o disco ter sido gravado na presença de uma imensa multidão. «Some Nights Intro» é um cruzamento entre a ópera alucinada de «Bohemian Rhapsody», dos Queen, com efeitos sonoros arrancados a filmes de terror levezinho como “Chuckie” ou “Sei o que fizeste no Verão passado”; «Some Nights», o segundo tema, poderá transformar-se na banda sonora de um futuro “Rei Leão”, e há dois anos ter-se-ia batido ombro a ombro com Shakira pelo hino oficial do Mundial de Futebol; em «Carry On», depois de um arranque de piano, somos levados a experimentar o folk irlandês num bar apinhado de gente, para acabarmos com o ímpeto de uma guitarra que poderia ter sido tirada de um disco de Slash.
Liricamente vive de um grande sentido de humor e de uma dose extra de introspecção. «We Are Young» conta a história de uma relação sem futuro numa noite passada entre amigos – que na casa-de-banho se preparam para ficar “higher than the Empire State” -, e de uma tentativa Clashiana de lhe atear fogo nem que seja por apenas mais umas horas: “Tonight, we are young. So let`s set the world on fire, we can burn brighter than the sun”; «Stars» vive de recordações, entre ímpetos de conquistador e uma crise saudosista: “Some nights I rule the world, with “barlights” and “pretty girls”, most nights I stay straight and think about my mom, oh god I miss her so much.”
Estranho e de certa forma misterioso, “Some Nights” sobrevive num mundo de contradições: é festivo apesar de melancólico; solarengo mesmo que carregado de sombras; épico mas sempre com um grande espírito de contenção. Nada mau para um disco que parecia não ser mais que um “amor de Verão”.
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