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Grandmaster Flash | Green Ray

Lux, 16 de Setembro de 2010.

Fui o primeiro DJ a fazer das turntables um instrumento. O meu nome é Grandmaster Flash.

Joseph Saddler rebentou no mundo destinado a ser Grandmaster Flash, 52 anos mais tarde. Foi mostrar aos seus seguidores portugueses todo o mérito que lhe compete, em mais uma edição Green Ray na discoteca Lux, em Lisboa.

Nasceu em Bridgetown, capital daquele que já foi território nacional – os Barbados (alegrem-se os que reconhecem ao brilhantismo internacional a culpa da remota costela-influência-dote português, qual Nelly Furtado), antes da entrada dos ingleses no barulho.

De lá já trouxe a responsabilidade dos pais pelo gosto que partilhavam pela música, quando aterrou no Bronx, Nova Iorque, e começou a desenvolver essa influência inspirado pelo melhor dos mundos possíveis ao imaginário de um DJ, fascinado pelas festas, pela dança, e por todo o panorama da música negra norte-americana nos anos 70.

Sem qualquer tipo de modéstia, que o Master está para o Djing e para o Hip-hop como o Mourinho está para a bola, Grandmaster Flash foi o prato principal da noite lisboeta, numa Quinta-feira que se predizia gulosa com Dubfire a (acon)chegar depois.

Atrás desse embalo foram todos os que se lembram, ou lhes contam, como o Djing era menos rico antes do scratch que Flash inventou. Frente-trás-solta-agarra-gira-troca-cruza-vai buscar – “This is Hip-hop”.

Desde cedo escolheu espicaçar o poder de improviso dos seus dançarinos que, de microfone em punho, acompanhavam o seu ritmo com a prosa que se viria a chamar Rap.

A par disso, ele aperta com os discos, atravessa, corta e mistura tudo. Resultado? Mesmo sem mostrar nada de novo num set de faixas/hits clássicos (sentido icónico), embrulha o alinhamento todo e oferece as cantigas old school, «Billy Jean» sempre presente, à passagem menos óbvia de sons mais hodiernos e não-tão-bem-vindos, («I got a feeling» foi talvez o único momento em que se franziram sobrancelhas e viraram costas ao pódio), um rumo energético que só mesmo ele parece conseguir manipular.

E fá-lo acompanhado por poucas e repetidas palavras – “Portugal!” e “Put your hands up!” foram as mais persistentes e as suficientes ao estímulo histérico, mas “coordenadinho”, que logo se instalava nas mãos-up e pernas-jump do público afluente. É “O” Grandmaster Flash – tudo o que toca, e não só o tecnicamente irredutivelmente bom, deve ser “Grand”. Mesmo os Black Eyed Peas? Sim. Porque sim.

Até se adivinha qual seria o feeling se de repente um desconhecido das mesas de mistura oferecesse as mesmas “flores” à assistência. Mas certo é que Alicia Keys joga bonito com Cypress Hill, às mãos deste senhor. E tudo em «Smells Like Teen Spirit» pode deixar o público «Insane In The Brain», ainda mais com MC e vídeo-projecções incitadoras à mistura. Tudo brilha à luz do Djing de Mister Master Flash.

Com The Furious Five, pioneiros a definir o Hip-hop pelas vozes de cinco rappers e a mesa de mistura de Grandmaster, e a primeira a merecer lugar na Rock & Roll Hall of Fame, em 2007, já rodava alguns dos temas que ouvimos no Lux. De Queen a Blondie, de Chic a Clash, a destreza de Grandmaster Flash é magnética e faz dos seus sets ápices memoráveis.

Porque ele não é só um dos grandes responsáveis do Hip-hop. Ele é também, e sobretudo, o culpado por ter elevado o estatuto de DJ aos céus e por transformá-lo na estrela-vedeta de qualquer festa.

“It’s like a jungle sometimes, it makes me wonder, how I keep from going under, ah-hun hun-hu” – fica a “Message” do Master.



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