Lisa Germano @ Alquimista

Um piano, uma mulher e os seus gatos.

Existem artistas assim. Artistas por quem corremos o risco de nos apaixonarmos facilmente. Lisa Germano tem uma daquelas vozes de que tudo o que tem para dizer é importante, uma voz angelical que basta sussurrar para nos embalar nas suas canções sobre a vida e a morte.

As suas composições são músicas despidas ao lamento de um piano (ou de uma guitarra, no caso do concerto) e identificam-se facilmente com o ouvinte, ao ritmo do seu fôlego e do seu pulsar. No entanto, aqueles que não conseguem encontrar pontos de contacto com a música de Lisa Germano, arriscam-se a achá-la de um aborrecimento de morte.

Lisa Germano é ela própria uma mulher simples. Descontraída e de traje informal – calças de ganga e t-shirt –, Lisa Germano demorou a ser reconhecida ao entrar em palco.

A cantora norte-americana trazia de Braga, onde tinha tocado no dia anterior, um pedido específico de dois admiradores. E foi com ele que iniciou a actuação – «Bad Attitude», em registo sing-a-long, como uma Patti Smith a descobrir a Primavera.

Depois, trocou a guitarra pelo piano e a primavera pelo outono, enchendo a sala de melancolia, solidão e conforto. É apenas um ténue risco no chão que separa a tristeza da depressão, mas a diferença entre ambas é abismal. E Lisa Germano tem o raro dom de conseguir ser triste sem ser depressiva. Algo que os miúdos do emo-rock bem gostariam de alcançar.

Com o público sentado no chão e a artista a conversar descontraidamente – sobre os seus discos (de como o seu álbum “In The Maybe World” passou de um disco sobre a morte para um sobre a vida como ela é), sobre Jeff Buckley (homenageado com o tema «Except For The Gosts»), ou sobre os seus gatos, com os quais tem uma relação algo obsessiva (os quais inspiraram «In The Maybe World» e «Into Oblivian», servidos em formato medley) –, o concerto assemelhava-se a uma noite em família. Aliás, com o aproximar da data, chegou mesmo a saber a Natal – aquele gosto mágico que só as coisas especiais têm. A atrapalhar só mesmo os descuidados sons de loiça vindos do bar ou os fãs mais apaixonados, demasiado embrenhados para cantarem mais baixo.

Obviamente que o público exigiu o regresso da cantora após esta terminar o concerto. E foi já nos dois encores que, em formato “discos pedidos”, Lisa Germano presenteou os presentes com os melhores momentos da noite, principalmente com uma tríade perfeita composta por «Cry Wolf», «Paper Doll» e «Red Thread».

E já no final, enquanto distribuia autógrafos à beira do palco, Lisa Germano ainda recebeu um pedido de casamento. Eu avisei que era fácil apaixonarmo-nos por ela.



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