“Maria-Rapaz”
Um argumento polémico num filme encantador
Planos delicados, num tipo de Cinema extremamente franco, em que não há espaço para rodeios.
“Maria-Rapaz” conta a história de Laure durante as “férias grandes” de um Verão. As “férias grandes”, aquelas por que esperávamos o ano lectivo inteiro, aquelas em que ansiávamos por chapinhar na água, passar o dia fora de casa com os amigos e voltar ao pôr-do-sol. Para Laure estas férias foram únicas e talvez das mais marcantes.
Uma família muda-se para uma nova casa nos subúrbios, para um novo ambiente, uma nova realidade. A mãe está grávida, o pai está ocupado com o trabalho, e há duas meninas, Laure de dez anos e a irmã mais nova, reguila, que adora andar de tutu de ballet.
Laure é uma pré-adolescente reservada, com um aspeto andrógeno, que veste roupas largas e algo masculinas. O mundo de Laure muda quando conhece Lisa, a nova amiga do bairro. Lisa toma Laure por um menino e esta opta por não desfazer a confusão. A partir daquele momento Laure é Mickael para Lisa e para os seus novos amigos.
A realizadora Céline Sciamma transforma o espectador numa espécie de testemunha de todas as alegrias, conquistas e aflições por que Laure passa neste dilema.
A prestação da pequena actriz Zoé Héran é simplesmente fabulosa e surpreende todos os que virem este filme. A sua postura, a sua energia, a representação dentro da representação, é extremamente bem feita. Afinal, Zoé interpreta Laure que interpreta Mickael.
Lisa torna-se na melhor amiga de Laure, ou, melhor dizendo, de Mickael. Juntas descobrem emoções e sentimentos fortes, durante este Verão inesquecível. Mas a “dupla personalidade” de Laure é rapidamente desmascarada, quando depois de um atrito de Laure com um menino, a mãe deste vai à casa da família de Laure. A mãe de Laure obriga a filha a assumir a mentira que alimentou durante aquele tempo.
Um retrato com planos realistas, com diálogos sinceros, que não foge às questões que o espectador quer ver respondidas. O fim da personagem Mickael dentro da personagem de Laure pode ser o início do compromisso de se assumir como é, para ela mesma, e para os outros.
Um filme emocionante sobre aceitação, risco e diferença. Que explora inteligentemente a temática da adolescência e das inquietações que podem surgir nesta altura, sem dissecar de forma ruidosa e mordaz as razões pelas quais Laure opta por ser Mickael.
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