NOS Primavera Sound 2014 | 6 de Junho
A actuação dos Pixies raramente conseguiu passar da mediania
Dia 6 foi um dia acidentado para este escriba que, por motivos de força de maior não teve a possibilidade de assegurar a cobertura do segundo dia do NOS Primavera Sound 2014 desejável e por isso deixo desde já aqui as minhas desculpas, com a promessa de que a cobertura no último dia do evento voltará a decorrer dentro da normalidade.
A chegada ao recinto ocorre quando já passa das 21h30. A prioridade é arranjar uma capa para a chuva. Parece que o pior já lá vai mas a verdade é que nunca se sabe. Por esta altura os Slowdive já tocam há 20 minutos no palco Super Bock. Cá dentro ainda se luta contra a mágoa de ter perdido os Midlake, Television e Warpaint mas infelizmente teve de acontecer assim. Enquanto se faz a locomoção para o Super Bock, verifica-se que junto ao palco NOS são já muitos os que aguardam pelos Pixies de Black Francis e companhia. São, sem sombra de dúvida, o nome que vai mover a maior massa de pessoas.
Adoro shoegaze. Adoro melancolia. Sou daqueles que consegue passar parte de um concerto de olhos fechados enquanto a cabeça se agita lentamente ao som da música. Os Slowdive assentam que nem uma luva neste género e as comparações com nomes como os My Bloody Valentine são quase sempre inevitáveis. Não só partilham a nacionalidade mas também o período temporal em que foram altamente relevantes no cenário musical independente, durante os anos 90. A atmosfera é etérea, quase palpável. Olhamos em volta e parece que a vida abranda. Tudo se passa em câmara lenta. O problema é que o efeito etéreo não funciona da mesma forma em toda a gente e o que para alguns é óptimo para outros torna-se aborrecido e desinteressante. Resultado: muito ruído em volta. É por isso altura de apressar para tentar apanhar um pouco do final do concerto de Courtney Barnett, que também já estava a entrar na recta final nesta fase. Pelo que foi possível ver, a australiana esteve muito bem. Ela, sempre de guitarra em punho e acompanhada por um baterista e um baixista que encheram o palco e a tenda que alberga o Pitchfork de pessoas! Infelizmente apenas deu para escutar duas canções e a despedida, que não podia ter sido mais honesta e que foi algo como isto: “5 minutes before the show start, this place was empty and it was scaring the shit out me”. As melhores surpresas surgem quando menos se espera. É sempre assim.
Os Pixies não podiam ter sido mais pontuais, o que aliás é uma constante em todo o festival, e são uma banda incontornável na vida de muita gente que ali estava. É verdade que desta vez não havia Kim Deal, o que para muitos tem impacto, mas havia uma Paz Lechantin (que tocou com os A Perfect Circle, entre outros) serena e extremamente competente, de baixo em punho e com uns arranjos florais na extremidade do mesmo. Não foi menos verdade que a actuação dos Pixies raramente conseguiu passar da mediania. Houve momentos altos, como é óbvio, com «Debaser», «Monkey Gone to Heaven», «Here Comes Your Man», «Nimrod’s Son» ou «Where Is My Mind», esta última mesmo a fechar. As visitas ao último “Indie Candy” foram recebidas com alguma frieza e indiferença. Tome-se «Bagboy» como exemplo. Continuando nesta linha de sinceridade, já nem Black Francis consegue abrir os pulmões como antigamente. Foi daqueles concertos que nos arrancou uns sorrisos aqui e ali, entre os poucos segundos que havia entre canções (eles não estavam ali para perder tempo com conversas da treta, meus amigos!!) mas que no final fica a saber a pouco porque pura e simplesmente sabemos e sentimos que os Pixies já foram muito mais do que aquilo que são actualmente.
Após os Pixies tornou-se imperativo comer alguma coisa. O problema aqui foi que muita gente decidiu fazer um jantar tardio igualmente. Depois de 1h perdida entre filas e alguma mastigação apenas sobrou tempo de seguir novamente para o palco NOS para ver os Mogwai.
“We’re Mogwai, from Glasgow, Scotland”. Sejam bem-vindos! Que fique claro: eu gosto dos Mogwai. Adoro post-rock. Da mesma forma compreendo como para alguns pode ser complicado apreciar um género em que, em primeiro lugar, quando a voz surge (se chega mesmo a surgir), tem um papel completamente secundário. Em segundo lugar pela forma como as guitarras surgem a cada canção, num misto de sussurro, seguida de raiva descontrolada, tudo numa gigantesca parede sónica. Não é do agrado de todos. Essa é a verdade. Os Mogwai são excelentes naquilo que fazem e provaram isso ali. “Rave Tapes” esteve debaixo dos holofotes mas houve tempo para visitas ao passado com «I’m Jim Morrison, I’m Dead» ou «Auto Rock» do “Mr. Beast” de 2006. Esta última foi mesmo arrepiante; densa, sensível, frágil, poderosa. Esta canção consegue ser tudo isso condensado e muito mais. Por vezes parece que estamos perante uma contagem decrescente e outras vezes parece que estamos mesmo no meio de uma cena de um filme em que está tudo prestes a entrar em ebulição. E o que dizer do som? Perfeito. Alto como deve ser, mas limpo; era possível ouvir tudo claramente. A guitarra. A outra guitarra. Os teclados. A bateria. Os pratos. Perfeição sónica ou algo muito perto disso. Nem a ausência da enorme «Simon Ferocious», do mais recente “Rave Tapes” fez com que ficasse algum resquício de tristeza neste coração.
Terminava aqui um dia acidentado. Sábado está aí a porta e, como se costuma dizer, o melhor fica sempre guardado para o fim.
Fotografia por Sofia Ferreira
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