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“O Inferno de Dante – novela gráfica”, de Gaëtan e Paul Brizzi

Conturbados desafios rumo à recompensa do amor

“A meio do caminho desta vida, encontrei-me numa floresta escura…”

Este é o mote para o início da verdadeira epopeia dantesca, a famosa Divina Comédia de Dante Alighieri. Um verdadeiro capolavoro gráfico, focado na primeira parte do poema italiano, ícone da literatura mundial, o Inferno.

Assim que folheamos as primeiras páginas, somos confrontados com um aviso aos leitores, que nos prepara para uma adaptação que teve vários patamares e passou por escolhas arriscadas, para que os autores pudessem chegar a uma novela gráfica, qual criatura híbrida, mistura de ilustração e banda desenhada, digna da obra original.

Para os que são mais zelosos do original, devem ler por sua própria conta e risco, cientes de que os autores conseguiram manter a essência, o dramatismo, a complexidade do debate interno entre a perseverança e a esperança em contraposição aos pecados e uma jornada exigente e tumultuosa, mas num tom mais acessível e popular, em desenhos equilibrados por meio de um hábil jogo de vários tons de cinza, que propiciam e conservam o dramatismo da epopeia em causa.

A edição desta novela gráfica maravilhosa, lançada pela Arte de Autor e A Seita, inclui além do aviso ao leitor e do enredo, de um caderno de extras, onde podemos ver rascunhos, esboços de personagens, não antes publicados, uma delas, a capa alternativa exclusiva da Wook; e um texto dos autores onde descrevem o seu processo artístico, desde a adaptação do argumento, à divisão de trabalho, à composição das páginas em rascunho, à composição das páginas definitivas e, por fim, os retoques finais.

Dante encontra-se perdido nos meandros da floresta, e depara-se com feras que por lá encontra e o atacam, levando-o a bater com a fonte numa pedra. Após perder a consciência e recobrar os sentidos, Dante vê-se frente a frente com o seu ídolo Virgílio, que o informa de estar encarregado por Beatriz de o levar até ela, mas que a viagem que ambos vão encetar se avizinha dura e plena de desafios.

O fascinado Dante aceita sem ponderar, pois a sua Beatriz o espera, como tal, é hora de seguir viagem.

O primeiro desafio da sua jornada épica é o Caronte, e que este aceite levá-los até às portas do Inferno, local sem restrições algumas, onde só existe um aviso: “Deixai toda a esperança, ó vós que entrais!”

Uma vez passados aqueles portões, a racionalidade e força de vontade têm tendência a desaparecer, a tornarem-se nulas. Se Dante quiser reencontrar-se com Beatriz terá que perseverar contra todas as vicissitudes que irá experienciar ao longo dos nove Círculos, três vales, dez fossos e quatro esferas, sendo que em alguns deles irá encontrar Aristóteles, Sócrates, Platão, Epicuro; irá enfrentar a ira e desprezo dos pecadores que sofrem as consequências dos seus atos, e os ataques de criaturas perigosas e mortais, que punem os pecadores (ex: Minos, Cérbero, Górgonas, Minotauro, Centauros, entre outros).

Passados rios de sangue e vales de lágrimas, superadas as provas diante de variadas criaturas, com um amor inabalável e uma fé mais ou menos, Dante chega à prova final ante Lúcifer, o anjo caído e eis que quando tudo parecia perdido…

Dante alcança o que tanto almejou e aquilo pelo qual tanto sofreu, reencontrar-se nos braços da sua amada, da sua Beatriz.

Criada pelas mãos dos pintores, ilustradores, autores de banda desenhada e realizadores de filmes de animação, os gémeos Gaëtan e Paul Brizzi, com o cunho das editoras Arte de Autor e A Seita (2024), a novela gráfica O Inferno de Dante, foi um árduo desafio superado pelos autores, tornando esta obra de contornos negros, acessível e apelativa a novos leitores e àqueles que já a conhecem.



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