“Os Nove Magníficos” | Helena Sacadura Cabral
Polaroids de viagens no tempo
No ano de 1960, John Sturges apresentava ao mundo os Sete Magníficos, um bando de pistoleiros profissionais encarregues de proteger uma vila mexicana, habitada por camponeses, de ferozes atacantes. Em 2012, depois de já nos ter dado a conhecer o lado feminino do poder, Helena Sacadura Cabral apresenta-nos a “Os Nove Magníficos”, uma pintura a óleo de nove reis portugueses que, de alguma forma, marcaram a história de Portugal e a ideia de política e do próprio acto de governação.
Logo no prefácio, Helena Sacadura Cabral trata de afastar a ideia de estarmos perante um manual de história. Neste livro residem, antes, «as “estórias” da História», tendo a autora tentado «descobrir quem foram as pessoas que se esconderam por detrás das personagens que a vida encarregou de colocar, ao longo dos séculos, como governantes da nossa gente.»
D. Afonso Henriques desde cedo se mostrou obcecado em tomar as rédeas do poder, e nem a ideia de guerrear com a mãe e o primo o fez mudar de rumo. Mostrou um grande jogo de cintura na gestão do equilíbrio entre cavaleiros, nobreza e igreja e, quanto à vida amorosa, nunca disse que não a uma nova amante ou a um filho bastardo. A sua vida foi marcada por milagres e, em Inglaterra, surgiu a teoria de que teria sido ele a tratar da saúde a D. Mafalda de Saboia, sua mulher. Foi um excelente político, um estratega militar fora de série e um hábil negociador, sempre aberto à inovação, tendo tido vários cognomes: O Conquistador, O Fundador ou O Grande.
D. Dinis – o Lavrador ou o Rei Poeta – foi, mais do que um guerreiro, um administrador. Criou uma rede de castelos ao longo da fronteira interior e, do lado do mar, mandou plantar extensos pinhais para impedir a desertificação, algo que mais tarde se veio a revelar uma mais-valia para os Descobrimentos. Foi amante das letras, protector da agricultura, responsável pela plantação do pinhal de leiria e criador da Universidade. Foi também graças a si que os documentos oficiais abandonaram o Latim e passaram a ser escritos em Português.
D. João I foi um dos reis com mais protagonismo, apesar de não ter nascido para governar. Esteve ligado à Batalha de Aljubarrota, uma das mais emblemáticas travadas em solo nacional. Cognominado o Rei de Boa Memória, unificou e trouxe estabilidade a um país que, em troca, lhe ofereceu a lealdade e o reconhecimento.
D. João II foi um homem muito à frente do seu tempo, um visionário com um plano. Foi um Rei implacável, não olhando a meios para atingir os seus fins. Foi ele o grande impulsionador dos Descobrimentos, tendo tido a ousadia de dividir o mundo ao meio – o Tratado de Tordesilhas foi obra sua. Fez um trabalho tão bom que ficou cognominado de Príncipe Perfeito.
D. Manuel I reformou a administração local, a justiça e o sistema tributário. Foi no seu reinado que se descobriram os caminhos marítimos para a Índia e o Brasil. De todos os reis foi o único a quem se associou um estilo artístico – o Manuelismo -, encontrado em edifícios como o Mosteiro dos Jerónimos.
D. João IV nasceu Duque e morreu Rei. Era apaixonado pela caça e pela música, e foi ele o protagonista da chamada “rebelião portuguesa”. Foi um diplomata inteligente, autor de uma importante obra musical e um general muito admirado, ficando conhecido para a história como o Restaurador.
D. José I teve o seu reinado estragado por dois acontecimentos: o terramoto de 1755 e o processo dos Távora. A sua governação ficou necessariamente ligada à figura do Marquês de Pombal, responsável pelo processo de reconstrução de Lisboa, o início da industrialização, a reforma do ensino e a expulsão dos jesuítas. Até que ponto o rei interveio, permanecerá para sempre um imenso mistério – apesar de ter ficado conhecido como o Reformador.
D. João VI teve a sua regência marcada por diversos momentos complicados: a conspiração dos fidalgos, a retirada da corte para o Brasil, a luta política entre liberais e absolutistas ou a independência do Brasil. Foi um dos últimos representantes do Absolutismo, sendo considerado o mentor do estado moderno brasileiro.
D. Carlos I, apesar de inteligente, culto e bom diplomata, não escapou ao assassinato. Herdou um reino em tensão: o ultimato inglês, as constantes crises políticas e económicas, um povo insatisfeito. Com ele ficava anunciado o fim da monarquia, que apenas duraria mais dois anos após a sua morte.
Os nove textos que Helena Sacadura Cabral nos oferece, curtos e reveladores de um imenso poder de síntese, estão longe da superficialidade. São, antes, polaroids de viagens no tempo, que permitem ter uma ideia de como estava então organizada a sociedade, tanto em termos políticos como no âmbito das relações pessoais. Quem desejar saber mais sobre alguns dos Reis de Portugal sem ter de pegar numa História composta por meia dúzia de volumes, tem aqui um excelente ponto de partida.
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