Pato Fu
A cura pela Pop. Entrevista exclusiva com o projecto brasileiro.
Com o lançamento do oitavo disco: “Toda Cura Para Todo Mal”, os Pato Fu afirmam-se como um dos mais sólidos projectos musicais da pop brasileira. A vocalista, Fernanda Takai, falou do novo trabalho, da participação de Manuela Azevedo no disco e dos objectivos futuros do agrupamento de Minas Gerais.
“Toda Cura para Todo Mal” é o vosso primeiro álbum de originais em quatro anos. Qual era a ideia que tinham em mente quando fizeram este trabalho?
A gente nunca tem uma ideia do todo, porque as canções vão surgindo com o seu universo próprio: tanto lírico quanto estético. Depois de termos todas as canções prontas é que temos uma certa imagem do álbum por inteiro. Só que há uma grande diversidade nele. Algumas pessoas acham-no o nosso disco mais pop, outros já nos disseram ser o mais triste… É bom saber que a obra tem essa leitura aberta que se faz pela identificação de cada um através de suas experiências pessoais.
Quando se escuta o disco fica-se com a sensação clara de que soa a Pato Fu. A vossa atitude foi intencional?
Cada novo trabalho é uma evolução do anterior. A gente nunca foi de dar guinadas na carreira. Queremos lançar discos diferentes um do outro pela qualidade nas letras, nos arranjos e execução. Tentamos sempre melhorar. Nunca rompemos com o que foi nosso início de banda. Procuramos não
impôr limites para a criação dos discos.
Em certas músicas também está presente um certo sabor a pop dos anos sessenta. Isso deve-se às vossas influências musicais do momento?
Acho que desde sempre ouvimos músicas de várias partes diferentes do mundo e de todas as épocas. Se juntarmos o que os cinco músicos ouviram ao longo do tempo, dá quase tudo! Procuramos extrair e reciclar as sonoridades mais interessantes de cada uma delas.
No tema «Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié !» há uma passagem em que o John canta: “É certo que milagre pode até existir, Mas você não vai querer usar, Toda cura para todo mal está no Hipoglós, Merthiolate e Sonrisal”. A que é que ele se refere ?
São medicamentos extremamente populares aqui no Brasil. Merthiolate é usado para pequenos ferimentos, cortes, arranhões. Sonrisal é um antiácido, usado para mal-estar após excessos alimentares ou alcoólicos. Hipoglós é uma pomadinha usada em bundinhas de bebé, para evitar assaduras…
O teclista Lulu Camargo está com vocês desde “MTV Ao Vivo”. Como tem sido a adaptação dele ao Pato Fu?
Sempre fomos muito fãs do trabalho do Lulu em sua outra banda, o extinto Karnak. Quando ele veio como convidado especial para participar no projeto de 2002, percebemos que tinhamos mais coisas em comum ainda. Além de músico excepcional é uma pessoa muito divertida e inteligente. Parece até que já convivíamos há muito tempo, tamanha afinidade entre nós.
Outro tema forte do disco é «No Aeroporto». Porque é que introduziram uma certa componente jazzística a esta canção?
Ela tem uma letra sob a forma de historinha com início, meio e fim. Já em relação ao som, remeteu-nos a uma sonoridade mais visual, mais cinematográfica. A gente de vez em quando utiliza sonoridades assim, só que nessa canção conseguimos um melhor resultado que nos anteriores, acredito eu.
Ah! Não posso deixar de mencionar que o nosso baterista, Xande Tamietti, teve sua formação inicial como músico de Jazz, por influência de seu pai, que também é baterista. Até hoje, nas folgas da banda, ele mantém um trio com amigos e apresenta-se ao vivo na nossa cidade regularmente.
Como surgiu a participação da Manuela Azevedo no tema «Boa Noite Brasil»?
Foi um pouco culpa de um jornalista chamado Pedro Salgado! Lembro-me que você nos apresentou à música dos Clã, através de um email em 2002.
Realmente havia muito em comum entre a gente e esta banda portuguesa.
Quando eu e John estivemos de férias em Portugal no início de 2003, encontramo-nos com todos eles no Porto. Trocámos discos e percebemos que nos admirávamos mutuamente, a empatia foi imediata. Os Clã convidaram John a escrever a letra de uma canção do disco mais recente deles [“Carrossel dos Esquisitos”] e nós convidamos Manuela para a única e mais do que especial participação em nosso oitavo disco. Vocês não tem ideia como as pessoas aqui estão encantadas com a sua voz! Espero que em breve possamos encontrar-nos novamente.
A frescura pop e a capacidade reinventiva são uma constante em todos os vossos trabalhos, que territórios musicais é que vocês vão explorar no próximo disco?
Obrigada! Ainda não sabemos. Cada novo álbum é uma etapa de muito trabalho e muita lapidação. A tournée de “Toda Cura Para Todo Mal” começou agora e vamos viajar por todo o país até o fim do ano que vem. Como temos um estúdio em casa, já vamos registando algumas ideias aqui e ali, mas ainda é cedo…
Quando é que veremos o Pato Fu a dar um concerto em Portugal?
Se dependesse só de nossa vontade, estaríamos aí imediatamente! Mas ainda não houve um convite das produtoras portuguesas. Vamos tentar colocar em prática a ideia de trazer os Clã ao Brasil e depois voltar com eles para algumas apresentações em Portugal. Espero que ainda estejam animados com esta ideia!
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