Balmain
Do glamour real ao luxo agressivo.
Se depois da tempestade vem a bonança, vem também a opulência, a riqueza, a vivacidade e uma certa despreocupação. Espírito sob o qual Pierre Balmain se lança quando abre a sua casa de alta-costura no Outono de 1945, passada a Segunda Guerra Mundial, deixando para trás os seus estudos em arquitectura, e dando origem a um novo sentido ao estilo feminino sob o auspicio da “Jolie Madame”. No ano seguinte, inaugura a expansão da marca com o seu primeiro perfume “Vent Vert”, um best-seller do final da década de 40 e início de 50. Balmain defendia que “no que respeita a elegância, o perfume é mais importante do que os acessórios, as jóias e os sapatos”.
A sua imagem de marca paira na sofisticação e elegância das linhas que desfilam em rainhas, princesas e actrizes, todas elas ícones da moda dos anos 50 e 60, que confiam em si a confecção dos mais belos vestidos de noite e de cerimónia, em têxteis requintados ornamentados por primorosos bordados. Esta fidelidade entre as mais conceituadas figuras internacionais – como Ava Gardner e Brigitte Bardot – conta com a proclamação de costureiro oficial da rainha tailandesa Sirikit, bem como a concepção de guarda-roupas para peças de teatro e 16 filmes, não esquecendo o uniforme feminino para a Singapore Airlines. É também nesta década que massifica não somente o uso da estola no dia-a-dia, como o vestido bainha em algodão ou seda sobreposto por um pequeno casaco, realçando a silhueta feminina.
A linha ready-to-wear é apresentada ao mundo em 1951, permitiu a sua implantação em diversos pontos dos Estados Unidos da América. Uma vida tão rica e memorável, rodeada das mais conceituadas figuras internacionais da sétima arte e da aristocracia, merecia um registo para a história. É assim que a 1964, Pierre Balmain publica a sua autobiografia intitulada “My Years and Seasons”, acabando por perecer em 1982.
Erik Mortensen, primeiro assistente de Balmain e o seu mais próximo sócio, assume assim a direcção da marca, subindo duas vezes ao pódio a fim de receber o Dedal De Ouro da Alta-Costura Francesa, com as colecções de Outono-Inverno 83-84 e 87-88. Ao deixar a casa em 1990, um role de estilistas desfila sucessivamente no cargo de director artístico da marca, passarela por onde atravessam nomes como Hervé Pierre (1990-92); Oscar de la Renta (1993-2002) na linha de alta-costura e ao mais fiel estilo “Jolie Madame”, metamorfoseado em linhas elegantes e fluídas; Gilles Dufour (1998-200) na linha ready-to-wear; e Laurent Mercier (2002-04).
O jogo de cadeiras na direcção artística não auxiliou a marca, e o contexto económico obriga a Balmain não somente a decretar bancarrota, bem como a abandonar a linha de alta-costura (2004), sendo Christophe Decarnin convidado a assumir a direcção da linha ready-to-wear em 2005, após ter trabalhado durante sete anos para Paco Rabanne na sua marca Apostrophe.
A marca assistiu a um ponto de viragem de 180º, passando duma linha glamorousa que preenche o sonho de qualquer princesa, a uma linha punk chic que satisfaz os desejos de editores de moda, celebridades e principalmente fashionistas. Os preços praticados pela Balmain numa linha de ready-to-wear nunca tinham sido vistos, tendo como símbolo icónico os distress jeans pelo preço base 1.000$, os tops Old Glory com a Union Jack rasgada e aplicações por 1.500$, os casacos militares impecavelmente concebidos com ombros gigantes cravejados de aplicações metálicas e brilhantes por 5.000$, e o máximo histórico auferido pelo vestido dourado, capa de sete revistas de moda internacionais e apresentado por Demi Moore, no simples valor de 31.000$. Desta forma, os consumidores vêem-se obrigados a reajustar os seus padrões de investimento.
Ventos de mudança vinham alertando para uma incerteza relativamente ao futuro da marca. A linha artística que Christophe Decarnin seguia era alvo de diversas críticas, apesar de ter trazido a prosperidade à marca, de proporcionar a duplicação das vendas desde a sua entrada em 2005, altura em que a maioria das maisons era afectada pela crise, e de criar a linha masculina em 2009. Christophe tem o mérito de conseguir instaurar a “Balmania” através da fidelização de celebridades, como acontecia nos primeiros passos da marca, mas desta vez sob um target complemente diferente, numa dicotomia glamour aristocrático versus punk chic. O role de personalidades que actualmente segue a marca inclui nomes como Kate Moss, Lindsay Lohan, Heidi Klum, Jennifer Connelly, Sarah Jessica Parker e Gwyneth Paltrow.
O prenuncio desta instabilidade consubstanciou-se na ausência de Decarnin no desfile de Outono-Inverno 2010-11, levando a especulações sobre a sua saúde mental face à pressão exercida não só relativamente à reinvenção da sua fórmula de sucesso, bem como aos atritos existentes com o CEO, Alain Hivelin. Inesperadamente, sem argumentos oficiais, é lançada a notícia de que Christophe Decarnin deixa a direcção criativa da marca, decidindo a casa, à semelhança da tendência operante no panorama internacional, optar pela escolha de um jovem talento que se identifique com os valores da marca, ao invés de oferecer a direcção a um conceituado criador.
Em Abril de 2011, Olivier Rousteing, licenciadado em 2003 pela Escola Superior de Artes e Técnicas de Moda em Paris (ESMOD) e tendo trabalhado cinco anos como Designer das colecções ready-to-wear feminina e masculina de Roberto Cavalli, assume a direcção artística da Balmain, marca para a qual trabalhava desde 2009 como responsável da linha feminina, estando marcado o debut da sua colecção para a próxima Fashion Week Primavera-Verão 2012.
A mais recente campanha da Balmain foi protagonizada pelos reconhecidos fotógrafos de moda alemães, Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin, os quais actuam como agentes secretos e espiam o comportamento de Kate Moss em backstage, dando aso não a um processo em tribunal, mas a uma curta-metragem fantástica assinada “Everglade”, nome da música de Antony and the Johnsons, que serve de fundo a esta gravação privada, com um travo acentuado de surrealismo ilustrado por Jo Ratcliffe, em animações que transitam entre o fantasmagórico e o mundo Disney, na intenção de representar os diferentes véus de percepção dum mundo interior imaginário. “Spying on Kate Moss” serviu de base à promoção da Campanha Outono | Inverno 2010/11.
Ficamos ansiosamente a aguardar novidades da casa Balmain, será que voltamos ao glamour real ou continuamos no estilo fashionista irreverente?!
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