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Glockenwise @ Culturgest (12.05.2023)

Foi certamente um dia feliz, e deveras ansiado, para os Glockenwise, após meses de ansiedade a vigiar de perto o ritmo de venda dos bilhetes dado que a sala da Culturgest os amedrontava ligeiramente. Porém, o seu actual estatuto, cimentado de forma extraordinário desde a transição para a língua portuguesa, fazia antever uma boa moldura humana, tal como veio a registar-se naquela sexta-feira.

As declarações da ceramista Rosa Ramalho, repescadas no arquivo da RTP, serviram de mote para o imaginário que os Glockenwise imprimiram no novíssimo álbum. Icónicas e divertidas foram as primeiras palavras a ecoar e a fazer a ponte entre um Portugal que, apesar de continuamente deixado para trás, não deixa de lograr a sua modernidade e o seu valor. Muito à imagem daquilo que uma banda rock de Barcelos tem progressivamente atingido.

A percussão sempre sólida, as linhas de baixo tendencialmente gordas, e o trio de guitarras a providenciarem múltiplas camadas (muita vez da mesma melodia) conjuntamente com os teclados, ainda que predominantemente em pano fundo neste caso. “Gótico Português” é um natural sucessor de “Plástico”, pegando no testemunho deste, mas tornando-se mais complexo, contemplativo, rimando completamente a estética para a qual o seu título nos transporta. Existem mais curvas e contracurvas ao invés do roteiro mais rectilíneo do antecessor. Nesta segunda obra na língua materna nota-se igualmente um maior à vontade de Nuno Rodrigues a nível vocal, mais experimentalista e muito mais confortável neste “novo” idioma.

Pelo meio houve espaço para histórias rocambolescas, como quando Manuel João Vieira desafiou os Glockenwise (ainda a frequentar a escola secundária) a descer até à capital para tocar no saudoso Maxime. Os detalhes mais sórdidos ficaram prometidos para a banca de merchandising após o concerto, mas a parte desvendada no auditório maior da Culturgest rendeu. Era patente a alegria, e devido orgulho, nas palavras de Nuno Rodrigues, vocalista e porta-voz da banda nesta ocasião, em toda e qualquer intervenção, e que certamente todos os demais elementos partilharia. É uma sensação deliciosa testemunhar este tipo de sinceridade, ainda mais num grupo que, apesar de jovem, detém uma quilometragem respeitável nas pernas.

A performance encerrou com a nova e apoteótica abordagem ao êxito «Heat», reinterpretado em português, e que acaba por simbolizar de forma perfeita a transição que os Glockenwise operaram brilhantemente nos dois trabalhos mais recentes.

O interesse em redor da banda barcelense é tanto que até as cópias supostamente defeituosas de “Gótico Português” em vinil saíram que nem castanhas quentes e boas no final do espectáculo. Um objecto apetitoso, especialmente para coleccionadores, dado existirem somente uma centena de exemplares. E uma merecida recompensa para os rapazes de Barcelos que, por motivos alheios, se viram impedidos de ter os vinis oficiais disponíveis nesta importante data da sua agenda.

Alinhamento:
– Vida Vã
– Muito Para Dar
– Lodo
– Natureza
– Moderno
– Margem
– Corpo
– Água Morrente
– Dia Feliz
– Gótico Português
– Besta
(encore)
– Deixa Ferver
– Bom Rapaz
– Calor



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