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Hello Atlantic

A conversa em torno de um projecto a solo, não por opção, mas "por ser difícil manter uma banda quando se é saltimbanco"

Depois de passar por várias bandas de garagem, João Esteves decide explorar o norte da Europa. Assim nasce, na Finlândia em 2007, o projecto Hello Atlantic. Um projecto a solo, não por opção, mas por ser difícil manter uma banda quando se é saltimbanco.

O percurso não foi fácil, e só em 2010 é que se começou a ouvir, com mais regularidade, material novo, que tem vindo a disponibilizar online para download. Começou com os EP’s “Circle of Land” e “Blue”, e em Março deste ano apresentou-nos “Slob Of The Kitchen Sea”.

Dotado de uma voz contagiante, que transmite sentimentos fortes, sons que facilmente nos ficam a entoar no ouvido, sem que fiquemos incomodados por isso, este projecto além-fronteiras e sem morada definida vai carimbando o seu passaporte, deixando muita vontade para que volte a Portugal e traga de souvenir novas sonoridades. Um folk acústico alternativo, directo mas sensível, um pouco ao estilo de Damien Rice, faz com que peguemos nos headphones e viajemos nas várias histórias que Hello Atlantic conta.

Usando vários instrumentos que vai aprendendo a tocar sozinho, o mentor do projecto apresenta-nos cruzamentos de harmónica com ukelele, guitarras e teclados. A simplicidade musical e a intensidade das letras faz deste projecto um dos mais promissores a nível nacional surgidos este ano, e Henrique Amaro não o deixou escapar; “Slob Of The Kitchen Sea” sairá em breve editado pela Optimus Discos.

Colocámos-lhe algumas questões e o João respondeu, simpático e disponível, tal como se apresenta em concerto.

O que fazias antes de Hello Atlantic? Já tinhas alguma banda ou tocavas a solo?

Antes de Hello Atlantic fiz parte de várias bandas “de liceu”, entre amigos. Fui ganhando alguma experiência na composição de música e letras, visto ter desempenhado esse papel em quase todas. Cheguei a ir a estúdio com uma delas, mas gradualmente os projectos acabaram. Comecei a viajar intensivamente e tornou-se incompatível assumir o compromisso de uma banda, enquanto passava muito tempo fora de Portugal.

Há quanto tempo existe este projecto e como é que ele surge?

O projecto surge da lacuna deixada pelos anteriores projectos musicais que se dissiparam. A génese de Hello Atlantic remonta a 2007, o ano em que parti para a Finlândia, para o desconhecido. Foi um ano de verdadeira revolução na minha vida e sentia a necessidade de expressar aquilo que estava a viver.

O projecto desenvolveu-se lentamente, porque passei os anos seguintes numa quase-ininterrupta viagem, sem um paradeiro fixo onde pudesse parar, reflectir e escrever material regularmente. Só já entre 2010 e 2011 consegui organizar as ideias que tinha para várias canções e compor de forma consistente para Hello Atlantic.

Quando iniciaste o projecto fizeste-o a solo… Achas que há uma nova tendência para surgirem tantos projectos de Cantautores? Tens alguma teoria?

É um projecto a solo mais por necessidade do que vontade. Como disse, as viagens estragaram tudo…

A meu ver não existe uma tendência forte, talvez me esteja a escapar algo…

Estiveste algum tempo na Finlândia, foi lá que gravaste inclusivamente… Sentes que estás numa espécie de encruzilhada geográfica? Onde te sentes mais confortável, fixo num local ou em viagem constante?

Sinto que toquei pólos opostos e me perdi no espaço entre eles. É longa a distância entre Portugal e a Finlândia, não só no aspecto geográfico… sem mais divagações, te respondo à segunda parte da pergunta: a viajar. Sinto-me confortável a viajar. Paro em virtude de um projecto, trabalho, ou algo que o exija, mas parte de mim está irrequieta quando estou num lugar durante muito tempo.

As letras parecem saídas de diários. Reflectem realmente aquilo que vives no dia-a-dia ou é fruto da imaginação?

As letras falam do que vivo. Sinto-me mais inclinado a partilhar algo meu, experiências acumuladas. Muitas delas não conseguiria sequer imaginar. Talvez aconteça um dia, mas por enquanto acredito que não existe melhor história do que a que aconteceu na realidade, nem sentimento mais genuíno que aquele que viveste na primeira pessoa.

O tema «The Leaving Song» parece um “até já” à Finlândia e um “olá de novo” a Portugal. Estou muito longe? Porque escolheste este tema para abertura?

Decidi chamar-lhe «The Leaving Song» porque queria que evocasse todas as minhas partidas e a esperança que acompanha o sentimento de “começar de novo” num lugar diferente. Uma espécie de hino à despedida, com detalhes de algumas pelas quais passei, com uma perspectiva positiva em relação ao futuro, ao próximo destino.

Tens disponibilizado imenso material online, nomeadamente os 2 primeiros EP’s. O que achas destes meios de divulgação? Tens recebido feedback?

As ferramentas de partilha online são óptimas formas de lançamento e divulgação da tua música para um público extremamente vasto, mas indiferenciado, e de uma forma impessoal. Não há nada como o contacto directo com o público. Eu acredito que funcionam em conjunto, assim como o feedback: é importante saber que as pessoas fazem o download ou compram o álbum para ouvirem regularmente a música, mas é também indispensável haver afluência nos concertos e sentir o “calor do público”, saber que não te querem ouvir só no ipod. Ambos motivam a querer fazer melhor.

Como surge a oportunidade de participares na Optimus Discos? Como foi o processo?

No Verão de 2011, enviei algumas maquetas com gravações caseiras para programas na rádio de divulgação da nova música portuguesa. O Portugália (da Antena 3) foi um deles, cujo locutor é o Henrique Amaro, também director artístico da Optimus Discos. Após ter divulgado o meu projecto na rádio, e sabendo que ia à Finlândia “tentar” gravar um álbum, lançou-me o desafio de editar essas músicas pela Optimus Discos.

O que te “custa” mais: a letra ou a música? Explica-nos um pouco do teu processo criativo…

Varia consoante os temas, mas é comum surgir primeiro a melodia e mais tarde preencher com letra. Nesse sentido a letra talvez demore mais a estar completa. Noutros casos as palavras já estão escritas ainda antes de começar na música, em pedaços de papel nos quais passo a vida a escrevinhar. Às vezes acabo por usar esses textos.

Tocas mais alguma coisa para além das guitarras? O quê?

Componho primariamente com guitarras. Foi aí que comecei, há uns 10 anos, na viola esquecida pelo meu irmão. Sou autodidacta e toco tudo o que estiver à mão se achar que oferece algo à canção. Até agora isso tem incluído vários tipos de percussão, harmónica, melódica e teclados. Gosto de experimentar instrumentos novos e procurar sons diferentes, não só no timbre desses instrumentos mas também em vários objectos e ambiências/ruídos.

És muito crítico com o material que crias? É-te difícil a decisão de que deves parar e dar a música como acabada, ou vais alterado constantemente?

Em geral sou “demasiado” crítico com o material que crio, mas estou a trabalhar nisso…

Diz a velha citação que a obra de arte nunca está acabada, apenas abandonada. É difícil fechar algumas músicas, especialmente quando acreditas ser uma boa canção com espaço para acrescentar ou para ser interpretada de outra forma. Suponho que já tenhas reparado nisso em Hello Atlantic, mas é algo que está a desaparecer.

Quem são as tuas influências musicais?

The Beatles

Quais as tuas aspirações? Onde gostavas de actuar ou com quem gostavas de participar?

Não aspiro a nada de muito específico, quero continuar a fazer música, a tocar e a viajar!



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