La Sera | “Sees the Light”

La Sera | “Sees the Light”

Falta-lhe aquele extra. Aquela capacidade de fazer click cá dentro

Já deviam ter tido a oportunidade de ler esta linhas há algum tempo, porém tal não foi possível por um conjunto de razões que agora não interessam. No entanto, não deixa de ser estranho que, agora que estou a escrever estas linhas, pareça ser a altura ideal para o fazer. Agora que o Verão acabou de chegar, talvez mais efémero que em anos anteriores, é certo. “Sees the Light”, o segundo álbum de Katy Goodman, terça parte das Vivian Girls e também conhecida por “Kickball” é exactamente isso. Um álbum coeso e simpático; daqueles que escutamos com prazer enquanto bebemos algo fresco e apanhamos um pouco de sol; com algumas canções bem arrancadas mas que falha no essencial: deixar uma marca duradoura.

Quem teve oportunidade de escutar o trabalho de estreia de Katy Goodman certamente notará uma evolução. Ela realmente existe e deve ser referida, sob pena de estar a ser injusto. A sua voz tem a capacidade de pegar numa canção sensaborona e adocicá-la, pô-la a brilhar. A primeira faixa é um exemplo perfeito disso mesmo, entra suave, com uma bateria constante e uma guitarra; com outra voz se calhar ninguém daria nada por ela, mas é então que surge a voz doce de Goodman.

«Please Be My Third Eye Tonight» troca-nos as voltas por momentos, com um registo a roçar o punk (a própria duração da canção vai nesse sentido – pouco mais de dois minutos) mas que nunca chega a sê-lo efectivamente porque Kickball mantém a canção sob rédea curta enquanto pergunta “Will you please be my third eye tonight?”.

«It’s Over Now» introduz um novo elemento na equação; teclados com mel que conferem à canção um toque melancólico e adocicado. É um tema que se distingue de todas as outras dez que compõem “Sees the Light”, até pela sua maior duração. Uma canção que encerra em si uma assumpção de culpa pelo final de uma relação; “I didn’t sacrifice / I don’t want you to be my man / I know that you’ve been in pain / And I see that I’m to blame”. Um fio condutor ao longo de todo o álbum, umas vezes de forma mais óbvia, outras menos.

«Real Boy» é outro bom momento, daqueles que nos deixa um sorriso maroto na cara. É também uma canção que traz uma mudança clara de estado de espírito: “Real boy, I’ve got time to spend with you / Real boy, I’ve got dreams that will come true / You’ll be my guy and we travel through time and start anew”. Perto do fim, a guitarra é senhora em «Drive On» e surge num registo que evoca o velho oeste e que quase por si justifica toda a canção.

Como foi escrito no início, “Sees the Light” é um bom álbum. Foi bem pensado. Está bem executado. Nada foi deixado ao acaso, nem mesmo a ordem das canções; montadas de tal forma que quase podem ser interpretadas como uma narrativa. Falta-lhe aquele extra. Aquela capacidade de fazer click cá dentro.



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