Terrakota @ LX

22 e 29 de Setembro. Gentes do mundo fazem música do mundo

Os Terrakota são um grupo estranho. Multiétnicos na origem dos seus elementos e no estilo musical proposto, são um exemplo de sucesso alternativo e independente. Com 6 anos e 2 discos de vida estes “7 magníficos” arrastam atrás de si e pelos quatro cantos do mundo o agrado de todo o público que os vê, escuta, e com eles dança. Mas o que há por detrás deste grupo luso-italo-angolano-moçambicano?

Tudo tem início em 1999 quando, numa incursão ao coração negro do planeta, três amigos iniciam a sua descoberta de novas culturas, tradições, gentes e, sobretudo, nova música: novos instrumentos, harmonias, ritmos… Três meses de exploração dos sons antes desconhecidos, aprendizagem das técnicas de construção e execução de instrumentos tão estranhos quanto raros na cultura musical ocidental, uma mala cheia de peles e materiais para a reconstrução dos mesmos instrumentos e, de regresso a casa, nasce a Terrakota (ou, traduzindo literalmente do parónimo italiano “terraccota”, a “Terra Cozida”; no sinónimo português: “barro” ou “terracota”).

E é precisamente isso que se sente na música deste grupo pluri-cultural: sabores da terra. Africana, ou antes, “Africanas”. A música dos Terrakota resulta de uma fusão de estilos contaminada por várias culturas musicais de raiz essencialmente negra. Nela contêm muito de afro-roots, uma boa dose de raiz jamaicana reggae e ska e um toque do samba brasileiro aqui e ali. Ocasionalmente experimentam juntar uma pitada oriental mas… “não abusam do caril”.

Todavia, os Terrakota não são só melodias alegres e ritmos envolventes. Há muito mais dentro desta caixa mágica de música orgânica. Em poucas palavras o mote é: “respect the planet and its different people”. Oriundos de vários cantos do mundo, os Terrakota proclamam, nas suas letras, a tolerância racial e a intervenção para a salvação do planeta e em particular dos povos mais pobres. Não o fazem num discurso inerentemente político. Antes pelo contrário, optam por comunicar através de uma comunhão participativa dos seus ideais celebrando-os em cada concerto. E é exactamente isso que acontece de cada vez que sobem ao palco.

Tive a oportunidade de os ver ao vivo por duas vezes até hoje (Évora e Milão). O efeito foi sempre o mesmo: uma (quase involuntária) viagem introspectiva guiada por um grupo de músicos capazes de descrever o ritmo da natureza e de acender no público a vontade de se deixar levar, através dele, numa celebração única de danças e cantos (Romi e Júnior não descansam enquanto não meterem todo a gente a saltar e a cantar com eles a “música que nasce da terra”!).

Mas se quisermos olhar exclusivamente para a música, com o que é que nos deparamos? Sete instrumentistas/cantores que parecem ter nascido a tocar aqueles estranhos objectos que trazem nas mãos (alguns afortunados provavelmente tê-lo-ão mesmo feito!).

Quando começam a “brincar” com as percussões e instrumentos melódicos com os quais se munem em palco, é difícil resistir ao movimento involuntário que se cria no corpo humano, ali do umbigo para baixo… Djambés, congas, darbuka, batà, repenique, didjeridoo, sabar, tama, ballafon. Um pouco de tudo. Um autêntico “arsenal de batalha” para a dança (pois, não há-de o corpo reagir…). Confesso: não saberei identificar metade destes instrumentos a próxima vez que os vir em cima do palco… mas não vou ficar parado por isso.

Sexta, 22 Set @ Recreios da Amadora, Amadora, Lisboa

Sexta, 29 Set @ “Arraial do Técnico” Instituto Superior Técnico, Lisboa



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