“Viver na Noite” | Dennis Lehane
Boston a ferro e fogo
Um dos autores mais consagrados da sua geração, Dennis Lehane, regressa com mais um excelente título, que tem como pano de fundo o período da Lei Seca norte-americana durante os anos 1920.
Depois de obras como “Gone, Baby, Gone”, “Shutter Island”, Mystic River” ou “Terra de Sonhos”, Lehane continua a encantar os seus fãs com mais uma aventura que traz consigo muita adrenalina, amor, vingança, violência e redenção.
O mundo do crime e os tentáculos da máfia são descritos por Lehane de uma forma sublime em “Viver na Noite”, mais uma cuidada edição da Sextante Top. O livro volta a revelar toda a mestria da escrita do autor natural do Massachusetts que carrega consiga uma emoção latente, alicerçada em maravilhosas descrições, diálogos emotivos e cativantes, peripécias que deixam o leitor completamente absorvido, assim como uma paixão que desafia as leis criadas pelo Homem.
Fã incondicional das desventuras escritas de Dennis Lehane, Ben Affleck já resgatou “Viver na Noite” ao seu autor e teremos novamente um romance do escritor norte-americano nas salas de cinema, algo que já tinha acontecido com os já referidos “Mystic River” ou “Shutter Island”.
Tal como em outras obras de Lehane, “Viver na Noite” é uma apaixonante aventura onde o desafio da Lei é algo mais que uma simples quebra social. Joe Coughlin, o mais novo rebento de um reputado capitão da Polícia de Boston, é um jovem ambicioso que rejeitou determinantemente a edução rígida de um núcleo familiar (des)funcional, procurando a fortuna fácil no seio de uma comunidade que tem, no contrabando e distribuição do proibido álcool, o seu maior mercado.
O crime parece compensar para Joe, e a capacidade de seguir um caminho errante leva-o a envolver-se numa guerra entre bandos locais onde o mote é não confiar em ninguém. Na companhia dos irmãos Bartolo, Joe decide assaltar um dos mais conhecidos antros de jogo ilegal, local explorado pelo gangster Albert White, e vê a sua alma assaltada pela paixão por Emma Gould, amante de White. Durante a ação Joe não resiste aos olhos de Emma e trava um decisivo diálogo com a mulher que lhe roubaria a alma e coração. Depois disso nada será como dantes e Joe e Emma envolvem-se num tórrido envolvimento, em que a frieza e calculismo de um e a entrega de outro serão decisivos para o desenvolvimento de uma estória que prende, literalmente, o leitor da primeira à última página.
A corrupção, o suborno, a morte, a traição e o amor são alguns dos elementos chave neste “Viver na Noite”, que tem na brilhante descrição de uma comunidade e conjuntura alguns dos seus grandes atrativos. Lehane revela também uma excelente capacidade de dar a conhecer ao leitor laços familiares dúbios que, por estranho que pareça, ligam as personagens numa cumplicidade comovente que o bulício urbano ou as questões raciais tendem a afastar.
Para além de ser um interessante livro, “Viver na Noite” é sinónimo de um dos períodos mais conturbados da história social e económica dos Estados Unidos da América, e da vontade individual de algumas pessoas em contrariar um sistema em falência consigo próprio e com a clara noção de que o seu destino mais provável será a morte ou a celebração de um vício pecaminoso.
Se gosta de um romance (muito) bem escrito cuja intriga assenta num labirinto de ficção criminal onde o gato por vezes assume a função do rato, “Viver na Noite” é a escolha certa.
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