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Wraygunn – “L’Art Brut”

“L’Art Brut” marca o regresso dos Wraygunn às edições, quase 5 anos depois do lançamento de “Shangri-La"

É um álbum muito menos imediato que os anteriores, embora o single de avanço, «Don’t You Wanna Dance», possa indiciar o contrário.

Não sei se vos acontece, mas a primeira audição de um álbum pode deixar marcas ou despertar emoções que vão acompanhar-nos sempre que o escutarmos daí em diante. Umas vezes melhores do que outras, é certo… Enquanto escutava “L’Art Brut” pela primeira vez, na minha cabeça passavam cenas de filmes. Umas reais, outras fictícias. Tentem agora imaginar um filme com 11 cenas distintas ou 11 curtas-metragens, se preferirem.

«Tales of Love». O tema de abertura apresenta-nos Paulo Furtado num registo spoken word. Não canta. A sonoridade é suja, muito por culpa da guitarra, que teima em trazer à mente as bandas sonoras do John Carpenter. A voz de Raquel Ralha surge como o doce para contrabalançar o amargo, provocante como só ela sabe ser.

«Don’t You Wanna Dance». É caso para dizer “baralha e volta a dar”. É rock com carimbo dos anos 50 e na cabeça surge de imediato um par a dançar num baile de finalistas do liceu, a ter lugar num ginásio: “Don’t you wanna dance? Tonight we have that chance”.

«Kerosene Honey». São blues quentes. A voz de Raquel Ralha assenta que nem uma luva. É uma descarga de rock’n’roll que nos põe a bater o pé.

«Stroling». Pode-se traduzir como “passear” e é exactamente isso que a canção parece fazer; levar-nos num curto passeio. É como uma curta pausa para respirar mas sem deixar que o ritmo se perca.

«Cigarette». Cheira a western. Algumas cenas de “Once Upon a Time in the West” do Sergio Leone passam pela cabeça, e a culpa é da guitarra que cria todo o ambiente.

«Bet It All». Se os Wraygunn escrevessem baladas, isto seria o mais próximo que teríamos. Começa calma, marcada pelo ritmo da bateria, seguida de perto pela guitarra que nos vai levando para um crescendo onde Furtado canta a plenos pulmões: “I bet it all on you”.

«My Secret Love». Rock’n’roll segundo Raquel Ralha. É um potencial catalisador para uma actuação ao vivo. “I’m secretly in love with my best friend. I’m secretly in love with you.”

«I Fear». Um piscar de olho a um rock com pinceladas de folk. É o momento de penitência dos Wraygunn em “L’Art Brut” e de Paulo Furtado em particular.

«Track U Down». Um bar. Uma sala cheia de fumo. Num palco uma mulher encara a plateia, olhos nos olhos, enquanto passa a mensagem. A bateria no início quase que nos diz que a canção é daquelas mais fáceis de incorporar, mas facilmente nos apercebemos que não é bem assim (elogio!). Pelo meio a guitarra deixa-nos matutar sobre aquilo que nos está a ser dito. Um aviso? Um conselho? Um pedido? Talvez um pouco de tudo.

«Where the Grass is Green». O título parece um pouco idílico mas os primeiros acordes rapidamente nos tiram essa ideia da cabeça, a começar pela distorção q.b. que se faz sentir e que cria o ambiente perfeito. Por cada verso que Furtado canta, Ralha e Uamusse surgem a confirmar o que foi dito em jeito de coro.

«I’m for Real». Confere um final delicioso ao disco. Rock’n’roll à Wraygunn. Parece que, em determinados momentos, evoluiu à custa de pequenos jams de guitarra que vão sendo colados pelas palavras de Furtado e pelos coros de Raquel Ralha e Selma Uamusse.

“L’Art Brut” é um álbum que, audição após audição, nos agarra, com uma subtileza que pode parecer estranha vinda dos Wraygunn. Está repleto de pormenores e por maiores que, quando encarados como um todo, fazem completo sentido e valorizam o resultado final.



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