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A Festa da sétima arte francesa

A etapa de Lisboa decorreu entre 6 e 16 de Outubro.

Várias obras foram dignas de destaque, como “The Artist” de Michel Hazanavicius, vencedor do prémio melhor actor no Festival de Cannes, que levou o público a descobrir os tempos áureos do cinema mudo e a deixar-nos encantar pela representação apenas pela imagem e pelas suas infinitas possibilidades de comunicação. Conta com uma performance fabulosa do protagonista George Valentin, pelo actor Jean Dujardin, que interpreta uma estrela do cinema mudo desde o epítome da sua fama até à sua colossal decadência, de uma forma irrepreensivelmente construída, com as expressões teatrais adequadas à época.

“Incendies”, do realizador Denis Villeneuve, foi premiado em vários festivais de cinema como o Festival de Cinema de Veneza em que lhe foi atribuído o prémio de melhor filme. Foi também nomeado para os Óscares na categoria de melhor filme estrangeiro de 2010. Este filme conta a história da mulher que canta, Nawal Marwan (Lubna Azabal), que conduz, após a sua morte, os seus filhos Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon Marwan (Maxim Gaudette), à verdade cruel e inimaginável da sua proveniência. É o retrato de uma guerra que nos choca e nos acorda, pois histórias como esta são passíveis de acontecer algures nestas batalhas humanas muitas vezes infindáveis. A performance da actriz Lubna Azabal é derradeiramente sofrida e exercitada na quantidade certa; ela transporta-nos para o seu mundo, para a sua dor, às vezes apenas com o seu olhar – confesso que há muitos anos um filme não me impressionava tanto. Saí da sala de cinema completamente absorvida pelos dramas relatados nesta obra.

“Un Amour de Jeunesse” é a terceira longa-metragem da jovem realizadora Mia Hansen-Løve. Um filme belíssimo e apaixonante, onde se observa a pureza e o arrebatamento do primeiro amor vivido por Camille (Lola Créton), que aos 15 anos se apaixona por Sullivan (Sebastian Urzendowsky). Esta jovem sofre um trauma causado pela separação de Sullivan, que parte para uma viagem na América do Sul e o contacto entre ambos acaba por perder-se. Anos depois, Sebastian reaparece na sua vida, e o sentimento que Camille tinha por ele emerge como se o tempo não tivesse passado. Os actores conseguem transmitir a candura do primeiro amor de uma forma bela e natural.

Mia Hansen-Løve, também responsável pelo argumento, construiu uma história que nos cativa e nos enternece, com diálogos inteligentes e bem adaptados à acção. “Inspirei-me na minha vida, não posso contar histórias que não conheço, não quero falar sobre fantasmas”, disse a realizadora sobre o filme.

Destaque também “Un Poison Violent”, realizado por Katell Quillévéré, uma das novas promessas do cinema francês. A primeira longa-metragem desta realizadora mostra-nos a passagem para a vida adulta de Anna (Clara Augarde), que tem 14 anos e volta de férias para a sua aldeia. Nesse Verão, Anna irá viver vários acontecimentos que a vão marcar e fazê-la crescer, tornando-se numa jovem mulher. O filme aborda o sagrado, algo que reprime algumas das personagens e condiciona o seu comportamento perante a sociedade, faz questionar o que é certo e o que é errado. Mostra-nos o conflito ente mãe e filha, algo muito comum nesta fase da vida, a juventude, a velhice e as vicissitudes inerentes a elas. Temas como a virgindade e a sexualidade são também explorados num contexto sociocultural ainda muito influenciado pela religião católica.

“Et Maintenant On Va Oú?”, de Nadine Labaki, é um retrato comovente de mulheres que lutam para que os seus homens não entrem numa guerra inútil, que já lhes levou maridos, filhos, pais, irmãos e não lhes trouxe mais nada além de dor e lágrimas.

Assistimos a momentos de comédia hilariantes com mulheres maravilhosas, interpretadas por Claude Baz Moussawbaa, Layla Hakim, Nadine Labaki, Yvonne Maalouf, Antoinette Noufaily, que usam dos mais diversos estratagemas para distrair os homens da aldeia, como trazerem dançarinas “eróticas” da Europa do leste.

Esta história provoca-nos muitos risos, mas por vezes associados ao choro pois o cenário da guerra não está presente mas sente-se. A realizadora fala da força das mulheres quando se unem para um bem comum. Utiliza sabiamente vários estados de alma para falar de paz. Mostra-nos belas imagens que ilustram o calor humano e ao mesmo tempo as dores que ficam num país dilacerado pela guerra.



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