Cave Story @ Musicbox (21.09.2017)

Cave Story @ Musicbox (21.09.2017)

Finais de Verão no Cais do Sodré. Alguns grupos reuniam-se aqui e ali, ainda com os bares vazios a apresentar uma falsa apatia de uma tempestade que parecia estar a chegar. Viria certamente dos ventos do Oeste que os Cave Story andaram a semear nas Caldas da Rainha e que, depois de os andarem a espalhar um pouco por todo o país (e até lá fora pela Europa) vinham agora fazê-los rebentar ali no Musicbox. “West”, o disco de longa duração de 2016, e “Spider Tracks”, o EP de 2015 iriam ser percorridos na íntegra.

Porém, quando ali chegámos – já perto da hora do concerto – tudo ainda parecia calmo. Havia quem se debruçasse sobre o balcão, outros aproveitavam para dar uma vista de olhos pela pequena banca de merchandising situada junto à porta. Ou então, quem apenas se deixasse estar na zona em frente ao palco bater o pé, enquanto uma «Waiting Room» dos Fugazi já fazia antever um pouco do que viria aí. Uns 20 minutos depois da hora marcada, os caldenses entram em cena.

Já em cima do palco, Gonçalo Formiga, voz e guitarra, armado com a sua belíssima Jaguar branca, terá achado que estava muito silêncio por aí. Da sua cabeça para o amplificador, toda a gente ali começou a ouvir o ruído que Goncalo queria, enquanto o resto do trio (com um elemento extra no canto do palco a ajudar ao ruído da banda) ia preparando o seu material. A troca de olhares clássica para indicar que está tudo pronto e a banda atira-se a «Cleaner», que além de ter aberto aqui o concerto, abre também o primeiro EP da banda. Segue-se «Southern Hype», um dos temas mais antigos popularizados pelo trio que, tal como já antes referiram, fala em sair dos lugares habituais. Cá estão eles em Lisboa, a 1h a sul das Caldas da Rainha.

Agora trocam-nos as voltas. Bem sabemos da irreverência dos Cave Story e do gosto pelas coisas menos convencionais, por isso já deveríamos estar à espera que os discos não iriam ser tocados pela ordem pela qual foram produzidos. E assim, saltam do “Spider Tracks” para o “West”, o primeiro disco de longa duração, com «Portable Property». Uma malha com pouco mais de 1 minuto, a lembrar a avidez dos Parquet Courts. Se há só isto para dizer nesta música, qual é a necessidade de inventar mais? Segue-se «Darkness is a Figure», com uma linhas de guitarra e linhas de baixo orelhudas com a voz de Gonçalo a mostrar, tal como na maioria das músicas, um certo aborrecimento. Que nos faz inclinar um pouco a cabeça para a frente (claro, com um headbanging em simultâneo) como que a querer saber o que é que o faz sentir assim. Depois «Altantic Town», canção também efémera, a rondar o minuto de duração. Com «American Nights», ouvimos um riff a fazer lembrar uma malha bem popular dos Car Seat Headrest (com a guitarra a tocar um riff a começar com dois mi’s idênticos). No fim, a voz sobressalta-se, e a habitual apatia transforma-se numa maior exaltação. Alguma coisa não há de estar muito bem com as noites americanas.

Voltamos ao primeiro EP, com «Buzzard Feed». O baixo arranca como se fôssemos saltar para a música de Fugazi que ali ouvimos mais cedo, mas com uma guitarra mais pesada, mais sónica. Que delícia. É altura de «Body of Work», tema de abertura de West e que põe o público a trautear aquela guitarra. «Richman», tema sobre Jonathan Richman que lhe faz a devida honra – com a devida honestidade e humor que lhe são característicos. A canção que fala sobre a possibilidade do líder dos extintos Modern Lovers ser Deus, lembra uma versão sua ao vivo de Ice Cream Man, com quase 9 minutos. Como o mundo seria bem mais engraçado se Jonathan Richman fosse Deus. Os Cave Story seriam com certeza o seu braço direito.

Para as malhas seguintes, entra em cena Manuel Simões, amigo de toda a banda que vem dar mais uma ajuda, armado com a sua também maravilhosa Jazzmaster vermelha. Em «Trying not To Try» empresta-a a Gonçalo, para este nos dizer, com o ar frustrado que a música proporciona a “trying my best to come up with something”. Os outros dois elementos vão puxando para cima, o que vai aumentando o tom de voz. Mais frustração. Mais zanga. E toda essa raiva chegou ao público. Para o fim, deixaram-nos com com o ritmo bem mais baixo e flutuante de «Guess We Could Feel A Lot Better About Worse». Sem espaço para tocarem mais porque, de facto, já tinham tocado todas as músicas que já gravavaram. Talvez para a próxima vez possamos ouvir mais coisas novas dos Cave Story, estamos sedentos por tal.



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