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“Discos Perdidos”

A odisseia do digging

Sejamos honestos: o digging (ou seja, a prática de percorrer lojas de discos e feiras da ladra à procura de discos particularmente obscuros, valiosos ou sampláveis), assunto escolhido para tema principal do documentário “Discos Perdidos”, realizado por Frederico Parreira, não é uma actividade particularmente cinemática. Há o valor visual das capas dos discos, claro, e o filme aproveita-se bastante disso; mas não há muito movimento na prática (tão mágica quanto monótona) de passar os dedos por crates de vinil à espera de uma descoberta.

Faz por isso sentido que “Discos Perdidos” aposte numa estética assumidamente lo-fi. Em vez de tentar brilhar com truques visuais, o documentário assume contornos bastante intimistas. Ao longo de quarenta minutos, acompanhamos Rui Miguel Abreu (veterano da cena musical funky portuguesa) e DJ Ride em excursões a lojas de discos em Lisboa, Elvas, Sevilha e Madrid. O filme funciona assim também como uma espécie de road movie, com a câmara a captar a atmosfera ligeiramente chuvosa da expedição realizada pelos dois music geeks.

Não há espaço para grandes dramatismos em “Discos Perdidos”. O espírito do filme, tanto a nível visual como a nível de conteúdo, cria-se em redor de tarefas bastante mundanas. É nos comentários avulsos dos dois protagonistas (“isto foi samplado pelo Ice Cube”, “acho que isto são principalmente cenas holandesas” – estou a parafrasear) que encontramos o centro emocional, e também o humor, do filme. Por duas vezes, este flow naturalista é interrompido por entrevistas mais “tradicionais” ao Rui Miguel Abreu, que servem para aprofundar o tema e aproximar os leigos daquilo que é a verdadeira atracção do digging.

teaser DISCOS PERDIDOS from frederico parreira on Vimeo.

Se há uma crítica a apontar a “Discos Perdidos”, será que o filme é quase despretensioso demais. A decisão de dividir a obra quase igualmente entre filmagens e fotografias em still, por exemplo, ameaça por vezes levar a estética lo-fi demasiado longe. Mas isto é uma crítica menor; estamos perante um documentário verdadeiramente original, e perante uma carta de amor bem conseguida a um dos passatempos pop-culturais mais duradouros das últimas décadas.

“Discos Perdidos” estreia no dia 6 de Abril no Musicbox Lisboa.



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