“Explicações de Português explicadas outra vez” | Miguel Esteves Cardoso

“Explicações de Português – explicadas outra vez” | Miguel Esteves Cardoso

Crónicas de um bom malandro

Um homem nasce, cresce, casa, tem filhos, descasa, encontra o amor e foge da morte. A vida pode ser um somatório de acontecimentos, causas e acasos mas, para alguns, a memória perdura no imaginário através de uma herança. No caso de Miguel Esteves Cardoso, a palavra escrita é esse património que se quer recordado, reinventado, descoberto.

Na sequência de um namoro que viria a virar matrimónio, Esteves Cardoso e a Porto Editora decidiram dar o nó e reeditar algumas das obras que mais marcaram o panorama literário das últimas décadas em Portugal.

De uma assentada, a Porto Editora ganhou o espólio de Miguel Esteves Cardoso e traz de novo às livrarias “A Causa das Coisas”, “O Amor é Fodido”, “Os Meus Problemas” e “Explicações de Português – explicadas outra vez” e apresenta ainda um novo trabalho do autor: “Como é Linda a Puta da Vida”, outro livro de crónicas mundanas. Para além de alguns arranjos, estes “novos” livros de Esteves Cardoso sofreram um lifting e contam com as ilustrações de Rui Ricardo a abrilhantar as capas. No que toca a alterações editoriais, esta nova abordagem permitiu que as próprias obras crescessem.

Em “Explicações de Português – explicadas outra vez” (Porto Editora, 2013),  que conta com um magnífico galo de Barcelos na capa, Miguel Esteves Cardoso oferece-nos aquilo que melhor caracteriza a sua escrita, que aposta no sentimento genuíno de uma portugalidade à prova de qualquer invasão estrangeira. Ao longo das páginas verbaliza-se, diferem-se sentimentos, vive-se, mata-se, recebe-se, suspira-se, sente-se o ardor de uma pátria egrégia, solta-se a animosidade do animal humano, proíbe-se a beleza, trabalha-se, agradece-se e, acima de tudo, vive-se.

Ler ou reler Miguel Esteves Cardoso é sentir a paixão da escrita, da ideia tornada palavra, do sentimento que nos transcende até à realidade palpável. O amor, por exemplo, sentimento que transborda nas linhas deste livro desde o seu prefácio em forma de declaração apaixonada, é omnipresente.

Logo nas primeiras linhas de “Explicações de Português – explicadas outra vez”, escreve-se sobre a união de seres idênticos, de somas entre parte de gente que se identifica. Em “Abraço”, escreve assim Esteves Cardoso: “As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se”.

É esta a magia da escrita de um homem que se diz apaixonado e que nos apaixona, ao presentear-nos com a sua e arte de formar textos, histórias e experiências que fazem crescer a própria língua portuguesa que, na pena de Esteves Cardoso, é utilizada de uma forma pessoal e transmissível.



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