FMM Sines 2024 (26.07.2024)
A tarde de quinta-feira do FMM coube ao supergrupo Cara de Espelho, que embarcavam na sua primeira digressão. Além de ocorrer num certame deste gabarito, esta presença foi ainda mais especial dado que coincidiu com o septuagésimo aniversário do “colosso da música portuguesa” Carlos Guerreiro, parafraseando a certeira Mitó. Cantaram-se, portanto, os parabéns, e todas as outras palavras manufacturadas por Pedro da Silva Martins, que tão bem ataca a cúpula do poder em Portugal e os seus problemas sociais que dão cor ao álbum de estreia homónimo, tornando-as infelizmente mais prementes a cada dia. É notável a simplicidade com que tocam nas feridas, dando falsamente a sensação de que poderíamos também nós assinar versos daqueles. Deu para pensar, cantar e dançar.
Já sob o olhar da lua, subiu ao palco o trio Mademoiselle, composto por gente que se cruzou a certa altura com o saudoso Rachid Taha, que também chegou a brilhar no castelo de Sines, e cujo fantasma tentam manter vivo através desta recente entidade. Rodolphe Burger ocupa-se das vozes e guitarra, Sofiane Saidi (que esteve em dose dupla nesta edição, cabendo-lhe fechar o palco da Av. Vasco da Gama horas mais tarde) de outras vozes, teclados e sintetizadores, ao passo que Mehdi Haddab trabalha o oud eléctrico, mesclando o rock, os blues, a electrónica, o raï com uma atitude quase punk de tão visceral. Relembrando nomes desde o referido Taha até Iggy Pop, constituíram uma boa surpresa do cartaz FMM para 2024.
O alinhamento levou depois até à plateia todas as cores e sabores quentes do cancioneiro de Fattú Djakité. Nascida na Guiné-Bissau e criada em Cabo Verde, com experiências em estúdio no Brasil, a cantora, compositora, artista plástica e activista em naturalmente um caldeirão de influências propulsionado por uma energia admirável.
Por esta hora, a esperada multidão de fim-de-semana começava a fazer-se sentir no interior do castelo, justamente na hora a que os ânimos estavam prontos a exaltar-se, no bom sentido, com a entrada em cena de Mestizo. A joint-venture anglo-colombiana edificada por Ahnansé (fundador de Steam Down, que recentemente visitaram o FMM) e Daniel Michel combina uma miríade de estilos, desde a cumbia ao rap, passando pela experimentação jazzística, o que tornava até difícil não agradar pelo menos parcialmente a qualquer elemento da sempre atenta e interessada plateia deste festival.
Incendiaram o chão para a chegada dos Groundation, indubitavelmente um dos nomes mais aguardados da vigésima quarta edição do FMM. O reggae raramente surpreende, porém tampouco desilude, e perante uma falange de seguidores tão lata e dedicada, a performance do colectivo que tem um pé nos E.U.A. e outro na Jamaica só poderia ser bem sucedida.
Encontrem aqui todas as reportagens do Festival Músicas do Mundo 2024.
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