Made In China
A peça de Mark O’Rowe sobe aos palcos do Teatro Taborda este mês.
Made in China, espectáculo já apresentado no Citemor 2002 é a quarta peça de Mark O’Rowe. Estreada no Abbey Theatre em 2001, trata-se de um trabalho de reinvenção linguística, com importação do calão e o seu enquadramento no cenário dramatúrgico.
A acção decorre nos subúrbios pouco favorecidos e tem como protagonistas jovens com poucas soluções de vida, facilmente aliciáveis para o crime. Dois homens, servindo um terceiro, envolvem-se num conflito sangrento, enquadrado por polícias corruptos, lutas de artes marciais e uma galeria de tipos característicos da nova “ralé” suburbana. Como pano de fundo, denota-se uma veneração peculiar da cultura televisiva e cinematográfica, em particular dos filmes de artes marciais de Hong-Kong.
O espectáculo de António Simão é de um excelente nível técnico, sobretudo a nível da interpretação: o elenco, constituído por Pedro Carraca, João Saboga e pelo próprio Simão, está concentrado e consegue dar credibilidade às personagens, até nos momentos, sempre sensíveis, de maior contacto físico.
O cenário, de José Manuel Reis, predispõe-nos para o prazer, mas ‘Made in China’ não será para todos os gostos. Esta mistura entre ‘Cães Danados’ e ‘Kill Bill’ é para quem goste de ver retratado um mundo onde a violência é a lei e a solidariedade é, definitivamente, um valor do passado. A realidade de alguns subúrbios das grandes metrópoles.
Mark O’Rowe nasceu em Dublin em 1970 e é o mais premiado dos novos dramaturgos irlandeses, em particular com Howie the Rookie (Agá O Piolho) que António Simão encenou, com tradução de Francisco Luís Parreira. Caracteriza a sua produção uma linguagem de sub-mundo, crua e realista, e uma construção narrativa com afinidades no registo cinematográfico. Made in China aborda o mesmo universo social que a peça anterior, em que o humano parece estar reduzido a uma função de sobrevivência. As suas personagens são por isso vítimas de um “desarranjo” social provocado pelas condições familiares, pelas referências educacionais pobres, pela experiência de exclusão na grande cidade. Estes “jovens” têm pouco amor e pouca linguagem com que exprimir essa carência.
Neste universo teatral com as suas possibilidades características de linguagem e construção teatral, e na sua radicação sociológica marcada, o trabalho é sobretudo dirigido ao actor, como intérprete.
Para ver de até 26 de Setembro no Teatro Taborda, em Lisboa.
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