Música do Mundo em Sines

A sexta edição do FMM decorre entre 29 e 31 de Julho trazendo de volta ao castelo de Sines a melhor música do mundo.

De todas as expressões artísticas, a música é aquela que tem um conjunto de características que a tornam especial. Através de sonoridades, vozes, roupas e danças, é possivel transportar toda uma cultura através do mundo, tornando um palco no Canadá numa festa tribal do Quénia. Depois da incrível comercialização da música, chegou a vez das pessoas tomarem mais atenção à dita Música do Mundo, na busca de novos sons e experiências, de forma a trazer algo de novo para as suas vidas, e expandirem os seus horizontes culturais.

Um dos festivais que aposta na música menos mediática e que se tem tornado num enorme sucesso, é o Festival de Músicas do Mundo de Sines que, ano após ano, tem conseguido cativar mais público, dinamizando uma cidade e uma região através de uma festa onde a modernidade e a tradição andam de braço dado, tendo sempre como pano de fundo as raízes e tradições dos povos que os músicos representam.

Este ano, a programação do FMM é uma das mais interessantes de sempre. Fiquem com a programação para cada um dos três dias de festival.

Dia 29 de Julho – Quinta-Feira – Tradição vs Modernidade

Para começar o festival da melhor forma, podemos assistir a um raro espectáculo ao vivo, que coloca no mesmo palco, a Ronda dos Quatro Caminhos, seis grupos corais alentejanos e uma orquestra de 30 elementos vinda de Lisboa. O espectáculo baseia-se no disco comemorativo dos 20 de anos da Ronda, “Terra de Abrigo”, tendo sido apresentado apenas em duas ocasiões, no CCB e na Festa do Avante. Uma oportunidade única de assistir aos tradicionais cantares alentejanos com um suporte sinfónico, criando uma atmosfera única e arrepiante.

O primeiro dia termina em festa com a folk dos polacos Warsaw Village Band. Depois de uma viagem à Polónia profunda, pegaram na música mais tradicional das vilas e aldeias, canções de casamento, de protesto e baladas de amor e deram-lhe uma nova roupagem. Através dos 3 elementos mais característicos da nova-velha música polaca: os instrumentos de cordas (em especial a “suka”, uma espécie de violino criado no século XVI e percutido com as unhas), os tambores e a voz (através do “canto branco”, uma adaptação dos gritos dos pastores), este agrupamento cria um ambiente festivo e altamente dançável que muitos apelidaram de “hardcore folk” .

Dia 30 de Julho – Sexta-Feira – O Zé Brasileiro

O primeiro nome a subir ao palco do castelo de Sines traz-nos toda a tradição da música mais tradicional mediterrânea acopolada a alguma experimentação vocal e extravagância. Savina Yannatou começou a carreira pela música erudita, interessou-se pelo jazz e só depois enveredou pela música tradicional, quando em 1993 foi convidada para fazer um disco de canções dos judeus sefarditas da cidade de Tessalónica. O grupo instrumental que a acompanhou nesse primeiro trabalho tomou o nome do disco – “Primavera en Salonico” – e passou a trabalhar com ela regularmente. Juntos conseguem conferir unidade a um repertório que inclui música tão diferente quanto hinos ortodoxos, baladas provençais, polifonias da Sardenha, “maqams” do Médio Oriente e rápidas fugas para as Caraíbas e a Irlanda.

Depois dos sons mediterrâneos, o Jazz com sabor a África vai invadir o castelo através de dois dos maiores nomes do “free” jazz da actualidade, David Murray e Pharoah Sanders. Depois de ter passado pelas edições de 2001 com a sua “família” sul-africana e de 2002 com as influências cubanas, David Murray regressa aos palcos do FMM com música de Guadalupe e um dos maiores saxofones tenores da história do jazz, Pharoah Sanders. Os fabulosos tambores “ka” e o cantar crioulo de Guadalupe dão o suporte rítmico e a pequena orquestra jazz dá o toque especial. Um espectáculo interessante e que se prevê bastante festivo.

O fecho da noite vai ficar a cargo de um dos mais ignorados artistas brasileiros do fim da década de 60 que, ao contrário de Caetano Veloso e Gilberto Gil, não encontrou o caminho da fama, devido à sua postura dita muito experimental, irónica e alternativa. Com uma carreira de mais de trinta anos, e 67 de idade, Tom Zé, está no auge da sua produção artística tendo editado, em 2003, “Jornalismo Falado”, um livro sobre o tropicalismo e um DVD do disco “Jogos de Armar”. Em palco promete ter muito para dizer e ensinar sobre as raízes tropicalistas da música brasileira. Um concerto histórico em Sines.

Dia 31 de Julho – Sábado – Nação Kuti

O dia de espectáculos começa com uma estranha e interessante fusão entre a música cubana e a judia, através de Roberto Rodriguez e o seu septeto. Os sons criados combinam a componente europeia da rítmica cubana – a “guajira” espanhola e o “danzón” francês – com várias músicas judias do Velho Continente, fabrica uma música elegante, discretamente festiva, próxima do tango. A descobrir no início das festividades do último dia.

Embora muitas vezes associada à música festiva e alegre, a música africana é sempre capaz de nos surpreender pela positiva. É uma dessas surpresas que sobe ao palco logo depois do septeto cubano. Filha de um diplomata, com os olhos cheios de mundo e os ouvidos cheios de músicas tão diversas quanto os “griots”, o jazz, a música clássica ou a pop, Rokia Traoré apresenta-nos uma música minimalista em termos instrumentais mas cheia de paixão e delicadeza no que diz respeito à voz. A cantora de 27 anos, várias vezes premiada pela BBC, traz-nos ao palco o outro lado de África onde canta tabus e histórias de infância.

Continuando no continente africano e com honras de encerramento do festival, podemos assitir a um concerto único de Femi Kuti, possivelmente o cantor Africano mais mediático. Filho de Fela Kuti, o fundador do afrobeat, essa mistura de ritmos tradicionais africanos, funk e jazz de vanguarda, Femi continua a levar a todo o mundo o legado de família através da música e das palavras, tendo-se tornado um dos principais activistas da luta contra a SIDA e contra a corrupção. Na Nigéria é herói nacional, no mundo inteiro é respeitado e adorado, em Portugal vai estar no palco do FMM no seu dia de encerramento com fogo de artifício como pano de fundo.

Sem dúvida que o cartaz deste ano é o mais forte de sempre tornando este festival ainda mais apetecível.

Pede-se a todos os interessados que não deixem ficar em casa o vosso espírito de descoberta e libertem alguns tabus e medos. Este tipo de música não morde e é altamente recomendável.

Com o Festival de Músicas do Mundo como mote, aproveite a praia e o sol de uma das regiões mais belas  de Portugal e fique a conhecer mais um pouco da cultura do nosso mundo.

A Rua de Baixo vai lá estar e promete contar tudo numa próxima edição.



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