Old Jerusalem
Um dos mais interessantes projectos da música nacional está de regresso com um novo registo de originais, "Twice the Humbling Sun". A rua de baixo esteve à conversa com Francisco Silva, o principal mentor do projecto.
Depois de em 2003 ter sido editado “April”, um dos melhores álbuns do ano, o projecto de Francisco Silva, Old Jerusalem, está de regresso com um novo registo que parece seguir os feitos do anterior e receber a aclamação da crítica e do público. Com influências claras na folk norte americana e no formato de canção, “Twice the Humbling Sun” reúne 11 faixas que harmonicamente preenchem os mais de quarenta minutos de duração do álbum.
A rua de baixo esteve à conversa com Francisco Silva onde, para além de ficarmos a conhecer um pouco mais deste novo trabalho, pudemos falar um pouco sobre o seu percurso no mundo musical.
Rua De Baixo: Como começaste a fazer música?
Francisco Silva: Comecei a escrever canções pouco depois de aprender a tocar guitarra. Gostava de música, tinha um certo fascínio por guitarras e ia explorando o que aprendia nas canções que escrevia. Lembro-me das primeiras canções que escrevi, mas não sei o porquê de as ter escrito, acho que andava a brincar um pouco com a música, a ver se percebia como aquilo funcionava.
Quais eram as tuas principais influências?
Praticamente todas as influências que me atribuem são acertadas: a folk, um certo country, a tradição de songwriting. Mas sou um pouco melómano e há muita coisa a passar de forma mais ou menos perceptível no que faço. O que é certo é que a base de Old Jerusalem sempre foi o formato de canção. Sob várias roupagens, sob várias formas, mas canções, desde o início.
Como surgiu o nome “Old Jerusalem”?
“Old Jerusalem” é uma canção do Will Oldham. Desde que comprei o disco em que esta canção aparece (“Viva last blues”) que me pareceu um nome bonito para uma banda.
Depois de existir o projecto como é que apareceu a Bor Land?
Soube da existência da Bor Land e interessou-me a ideia associada à editora. Numa determinada altura enviei uma gravação em 4 pistas que interessou ao Rodrigo. Estabelecemos então contacto e iniciámos esta parceria.
Da parceria surgiu “April”, que foi considerado um dos melhores álbuns de 2003. Como correram as vendas? Sabes números?
Ao certo não sei. Sei que houve duas edições de 1000 exemplares cada. As vendas não correram mal (aliás correram muito bem dado o carácter da edição) e cobriram os custos, mas o número de cópias efectivamente transaccionado terá rondado apenas os 600, 700 exemplares (penso eu).
Foi importante ter recebido esse reconhecimento pelo trabalho efectuado?
Claro que sim, o reconhecimento é importantíssimo como “combustível” da actividade. Dá pelo menos a ideia de que estamos a fazer isto para alguém e de que pode haver alguma relevância no trabalho. Não é absolutamente certo, nem valida automaticamente o trabalho, mas é agradável e motivador.
Consideras-te um cantautor folk?
Não vejo que seja desajustado atribuir essa designação a Old Jerusalem. Nem tudo o que faço é propriamente folk, mas o conceito tem vindo a tornar-se mais abrangente e vindo a abarcar outras abordagens, o que é naturalíssimo.
O que achas dos “rótulos” que a crítica utiliza para caracterizar alguns artistas e sonoridades?
São úteis. Situam o leitor e aproximam-no do que pode esperar. Claro que no processo se tornam redutores, mas ninguém espera que uma palavra descreva todas as subtilezas de um género ou aproximação musical.
Depois de algum tempo de interregno surges agora com um novo álbum e a colaborar com o “Unplayable Sofa Guitar”…
O Paulo Miranda, mentor do Unplayable Sofa Guitar, produziu os 2 álbuns de Old Jerusalem. A ligação vem daí e naturalmente a colaboração foi facilitada por isso. Os 2 projectos são muito diferentes, as abordagens e os objectivos também, mas há um “common ground” que permite que o trabalho de ambos possa aproveitar o contributo de cada um. O Unplayable Sofa Guitar tem uma aproximação e um conceito mais vincadamente country e “rootsy” do que Old
Jerusalem, que segue uma linhagem mais introvertida.
Depois de “April”, como lidaste com o desafio de editar um segundo álbum que correspondesse às expectativas?
Essa perspectiva desaparece rapidamente a partir do momento em que se começa efectivamente a trabalhar e a ter de simplesmente, e de forma muito pragmática, arranjar soluções para cada tema em particular. O desafio é por isso mais o de fazer o possível para que cada tema e o disco em geral sejam o melhor que podem ser por si só. As expectativas (quer do público, quer da crítica) só aparecem quando já temos o trabalho concluído e fazemos nós próprios a primeira análise do que fizemos. Mas aí já há pouco a fazer.
De que forma é que “Twice the Humbling Sun” é diferente de “April”?
É um disco um pouco mais despojado em termos sonoros, com maior ênfase nas palavras e mais homogéneo no ambiente. Dá continuidade ao “April”, não é substancialmente diferente, mas parece-me um pouco mais adulto (como eu).
É um álbum mais pessoal?
Ambos são pessoais, mesmo quando não são biográficos. No “Twice the Humbling Sun” parece-me haver um pouco mais de definição nas imagens evocadas e, por essa via, um pouco mais de exposição em momentos.
O amor é algo que te faz escrever e reflectir?
Os relacionamentos são uma fonte praticamente inesgotável de reflexão e escrita, obviamente. Sempre foram e sempre serão, creio.
Vês-te como um artista para uma grande minoria?
É uma minoria que sabe da existência de Old Jerusalem, por isso tecnicamente sou um artista para uma minoria, mas não faço disso uma causa.
Tens algumas aspirações a que a tua música consiga chegar a mais pessoas ou não te preocupas muito com isso?
Não é uma coisa que me preocupe, mas naturalmente agradar-me-ia que cada vez mais gente ouvisse e se interessasse pelo que faço.
Algum receio de te tornares mais “comercial”?
Não na substância do trabalho, mas é verdade que me desagrada o circuito promocional mais mainstream.
Imagina que uma “major” quisesse assinar contigo, promovendo o teu trabalho mas impondo algumas “regras”. Achas que concordarias?
Como Old Jerusalem pode funcionar, à escala em que se enquadra. De forma autónoma, não me parece que aceitasse alterar substancialmente o trabalho para o adequar a quaisquer regras exteriores. Aliás a questão já se chegou a pôr na prática e não foi necessário sequer ponderar para decidir manter o trabalho num nível independente.
O que achas do trabalho das editoras independentes em Portugal?
Não acompanho de forma exaustiva as edições independentes, mas o papel destas editoras em Portugal é extremamente relevante. Era necessário dar consistência ao trabalho que desenvolvem e criar um público que permitisse dar continuidade aos vários sectores editoriais que se vão desenvolvendo. Assim descrito parece simples, mas a prática é muito mais desencorajante…
Quais as tuas expectativas para este disco e carreira futura?
Não tenho grandes expectativas em relação a este ou futuros trabalhos.
Aliás, as primeiras reacções ao disco já superaram as expectativas que tínhamos, pelo que nesse aspecto já pouco há a acrescentar. Perspectivas para o futuro: os normais concertos e um 3º disco, que está a ser preparado.
Concertos de apresentação de “Twice the Humbling Sun”:
Abril
Dia 1 – Porto – O Meu Mercedes É Maior Que o Teu – 23h30
Dia 2 – Famalicão – Casa das Artes – 23h30
Dia 9 – Festival Santos da Casa – Coimbra – Museu dos Transportes – 23h30
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