“Trainspotting”
Renton, Spud, Begbie, Tommy e Sick Boy personificam os efeitos de uma vida regida pelo mundo da droga
“Consigo resistir a tudo, menos à tentação”. Eternizada por Oscar Wilde, uma frase facilmente aplicada a “Trainspotting”, filme de culto dos anos 90.
Inspirado num polémico romance de Irvine Welsh, “Trainspotting” permitiu a Danny Boyle mostrar-se ao mundo do Cinema. Um argumento adaptado que foi uma injecção na veia da indústria cinematográfica britânica. Esteve, inclusive, nomeado para uma estatueta que não rumou ao Reino Unido.
Narrada num contexto de depressão económica que atingiu Edimburgo no final dos anos 80, a história escava as entranhas do submundo da pobreza ritmada pela heroína.
Submissos a um estilo de vida, Renton, Spud, Begbie, Tommy e Sick Boy personificam os efeitos de uma vida regida pelo mundo da droga. Cinco personagens opulentas na sua génese, psicóticas, com todas as características de anti-herói.
Assente numa base de humor negro, o filme oscila entre a comédia e a tragédia, à semelhança do que acontece com as mudanças de humor provocadas pela heroína. Há um confronto implícito ao espectador. Sobressai a escolha silenciosa que Renton deve fazer: os amigos ou a sua vida.
Moralmente desafiador, “Trainspotting” adquiriu o estatuto de culto também em algumas das suas cenas sublimes. Destaque para o início arrebatador através da perseguição nas ruas de Edimburgo, o célebre mergulho na pior sanita da Escócia e a overdose ao som de «Perfect Day», de Lou Reed.
“Trainspotting” não celebrizou apenas Danny Boyle, mas assumiu uma importância crucial na carreira de Ewan McGregor (Renton). Ainda hoje, este continua a ser um dos grandes papéis de McGregor, mesmo sabendo que três anos depois embarcou na aventura de “Guerra das Estrelas”.
A consistência de “Trainspotting” não se atingiu apenas com um argumento fértil e interpretações sólidas. A qualidade da banda sonora, que envolveu vários artistas britânicos e norte-americanos, foi extremamente bem conseguida. Artistas como Lou Reed, David Bowie, Iggy Pop, Blur, New Order e Underworld garantiram a presença nesta banda sonora, entre as melhores já produzidas.
Há tentações (britânicas) às quais não vale a pena resistir. Wilde, o irlandês, sabia o que escrevia, tal como Irvine, o escocês. Que o diga Danny Boyle, o inglês.
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