Vodafone Paredes de Coura | Dia 2 (14.08.2025) 

Todos os caminhos vão dar ao Paredes de Coura.

Texto por Patrícia Santos e fotografia por Rui de Freitas.

São imensos os braços desimpedidos (leia-se, após tendas assentes e pratos do almoço lavados e arrumados) que são acolhidos pelo Vodafone Paredes de Coura a cada ano, mais e mais. E mais dúvidas houvesse, estamos cá nós para comprovar que José Saramago tinha razão quando escreveu “Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam”. E esse lugar de esperança é no Paredes de Coura. Esperem por nós ou não – o couraíso é ponto de chegada (sem porta trancada). 

Neste segundo dia de festival, a meio da tarde, no Palco Vodafone, actuam Linda Martini. Tendo lançado “Passa-Montanhas” em Janeiro do presente ano, regressaram ao Paredes de Coura para apresentar o mesmo e nos revoltarem sem perdição, com ambição. O calor vespertino não deteve ninguém, pois que, se por um lado, os Linda Martini se entregaram instintivamente àquele momento de conscientização; por outro lado, nós, enquanto público, recebemos bem a demanda, comprometidos. São ferozes e zangados, acarretam consigo um coração tenso e maciço. Foram contestatários. Findam com Cem Metros Sereia e uma delongada presença nas nossas mentes. Glockenwise e o “Gótico Português”. Um concerto que vem a tempo, intemporal, para nos mostrar como a urgência do dia-a-dia, vigente, desacelera se direccionarmos acertadamente a nossa energia. Segue-se o concerto dos Terno Rei, claro e compreensível. Apresentaram-nos o seu mais recente trabalho artístico, “Nenhuma Estrela”, o qual vive de amores e desencontros. Cada vez mais proeminentes na música internacional, deixaram ressoar as suas melodias compassadas, souberam ser ousados e, ao mesmo tempo, delicados. Solidão de Volta foi cantada como se não houvesse amanhã. Também no Palco Vodafone, é a vez de Perfume Genius nos brindar com a sua apatia reversa. Cingido às palavras necessárias – às que as canções assim o ditam -, não se circunscreveu ao que o seu génio almejou. Em contrapartida, pudemos assistir a uma performance cujo lirismo não nos deixou aquém – bastou uma cadeira dançante e, quase, flutuante para nos desprendermos de simbolismos e afins. Perfume Genius fundiu-se com o palco, com o chão que pisava e no qual se deitou e volteou. Nós, por sua vez, sentimos cada arrepio desses como um resfriado – não porque não queríamos mais; mas sim porque nos despimos tanto e tanto e tanto… Lola Young e a sua estreia em Portugal. A artista e a sua voz-abrigo, capaz de nos surpreender a cada instante. E cada instante daquele concerto foi sendo o mais ansiado da noite. Isto porque, se por um lado, Lola Young foi todos os vértices de um triângulo maior; por outro lado, a artista também foi uma linha perpendicular que nos tocou como um sopro de amor. De lágrimas e sorriso no rosto, a cantautora fez de nós um coro distinto e muito feliz. Prepara-se para lançar o seu próximo álbum a 19 de Setembro de 2025, “I’m Only F**king Myself”. Prossegue a noite com Soft Play que, imediatamente, instalaram o alvoroço na sua forma mais precisa e apreciada. A dupla inglesa hipnotizou ao avesso toda a gente, gerando-se um pico de electricidade figurativa que nos levou mais além. Ainda Portugal. The Man e o imperativo do que é agradável e quase, até, descomprometido (sem ser desleixado). Delinearam um concerto mudo de palavras moles; queriam que os ouvíssemos cantar e tocar – e, de facto, assim fora. Com regalo, projectaram, literalmente, numa tela, as palavras firmes que queriam partilhar connosco. A banda era o título, o que se lia o subtítulo. Sem vagueios, Portugal. The Man firmaram o seu lugar; e, nós, segurámos o copo bem agarrado e empurrámos o cansaço para outro lado. 

Mais um dia de Paredes de Coura não é só mais um dia qualquer. Seguimos feitos, sem enfeites, e sem enfados. Venha de lá mais um dia, não há nada que nos afugenta (muito menos a água fria!).

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Leiam aqui as reportagens do primeiro, terceiro e quarto dia do festival.