Broken Social Scene @ Aula Magna
Sem falhas.
Foi a segunda vez este ano que um concerto a que fui coincidiu com um jogo grande do nosso campeonato. Desta vez foi um Porto vs Benfica. Nestas ocasiões torna-se inevitável pensar se o jogo irá afastar pessoas do concerto. A sala tardava em encher e o próprio jogo tinha começado tarde (relativamente à hora agendada para o concerto). Se para alguns esta situação pode constituir um dilema, para mim não é o caso. O concerto ganha invariavelmente. Sempre. Mesmo assim ainda pensei que poderiam atrasar um pouco o início da primeira parte. Não o fizeram e a sala quase que encheu neste dia 7 de Novembro. Adiante.
As honras de abertura couberam aos portugueses Hipnótica. Era palpável um ar de desconfiança face ao que iria sair dali. Confesso que eu mesmo me incluía nesse lote. Também confesso que saí surpreendido e pela positiva. A banda lisboeta encontra-se a promover um novo álbum, lançado há cerca de duas semanas e intitulado “Twelve-Wired Bird of Paradise”. Um álbum que foi apresentado pelo vocalista, João Branco Kyron, como mais soalheiro que os anteriores trabalhos. O vocalista revelou-se ao longo da, obrigatoriamente curta, prestação – durou cerca de 30 minutos – activo, interventivo e sem medo de arriscar. Os temas apresentados foram quase todos do novo álbum, tendo apenas havido uma breve passagem pelo álbum anterior da banda. Houve tempo para algumas investidas à frente do palco que renderam bastantes aplausos por parte do público que, lentamente, ia compondo a sala. Um bom concerto de abertura, que cumpriu de forma eficaz o seu propósito.
Eram 22h quando os Broken Social Scene entraram em palco ao som do tema que abre o mais recente Forgiveness Rock Record (um dos bons álbuns que 2010 viu nascer), «World Sick». A primeira nota de destaque vai para a qualidade do som. O equilíbrio entre bateria, voz, teclados e guitarras soavam perfeitos, algo que na Aula Magna acontece com alguma regularidade, felizmente. A forma como as guitarras se distinguiam perfeitamente umas das outras davam uma profundidade ao som que facilmente originava aquele arrepio na espinha, que surge quando se gosta daquilo que se está ouvir. Sabem a que me refiro, não sabem ?
Os Broken Social Scene não fazem encores, como Kevin Drew fez questão de referir numa fase do concerto em que muitos esperavam a primeira saída de palco para breve: “We don’t do encores, so we’ll keep playing a little more!”. Perfeito. Admito que também dispenso encores. É, no mínimo, um tema que fica por tocar…
O concerto teve duas partes distintas. A primeira, foi mais centrada no último álbum e a segunda, que teve “início” quando o concerto levava pouco mais de uma hora de duração, passeou por temas de outros álbuns da banda. A dinâmica da banda de Toronto que, segundo Drew, nasceu no bairro português da cidade, é excelente. Contagia. As posições não são fixas e muito menos o protagonismo. Se em «Texico Bitches», era Drew que assumia as despesas vocais, no tema seguinte, «Fire Eyed Boy» (do álbum homónimo), era Andy Whiteman que se chegava à frente. A sempre excelent «7/4 Shoreline» surgiu cedo no concerto e apresentou pela primeira vez à Aula Magna a voz de Lisa Lobsinger, que se fez ouvir por diversas vezes ao longo da noite.
Um dos excelentes momentos da noite chegou quando «Superconnected» se fez ouvir. Aí toda a sala se levantou. Neste momento a energia no ar era quase palpável. Memorável. Nas caras dos 8 elementos que se encontravam em palcos os sorrisos que se desenhavam eram por demais evidentes. E não era motivo para menos. Com certeza que já estiveram naqueles concertos em que se nota uma clara química entre o público e banda. Mas daquele tipo mais raro. Daquele tipo que não leva a cair no ridículo. É mais raro. E muito mais saboroso, digo eu.
Foram vários os momentos para mais tarde recordar, que resultaram da passagem dos Broken Social Scene pela Aula Magna mas um, talvez mereça maior destaque que os restantes. O concerto estava a entrar na segunda etapa e o tema escolhido foi o «Hotel», devidamente apresentado por Kevin Drew como um tema velhinho. Eis então que decide descer do palco e sentar-se numa cadeira livre da primeira fila dos doutorais (sim, havia uma cadeira livre na primeira fila dos doutorais por muito estranho que possa soar!) e começar a cantar os primeiros versos: “Disappear like I come in your world”, para de seguida prosseguir sentado na ponta do palco, já virado para o público. Por esta altura, banda e público já pareciam velhos conhecidos. É tão bom quando assim acontece.
O concerto já durava há 2 horas e 15 minutos (!) quando a banda o deu por terminado mas no ar ficou aquela sensação que se os Broken Social Scene pudessem, continuavam a tocar e o público não arredava pé dali.
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