Manuel Fúria e os Náufragos

MANUEL FÚRIA E OS NÁUFRAGOS @ LUX (09.03.2017)

Foi no clube de Santa Apolónia que Manuel Fúria e compinchas musicais decidiram mostrar à massa adepta o mais recente trabalho, denominado “Viva Fúria”, que contempla onze novíssimas composições. E foram exactamente essas onze canções que preencheram o alinhamento do concerto, no qual obviamente marcaram presença diversos familiares e amigos, que não deixaram de prestar o seu apoio antes e após a actuação.

Se há algo que as diversas aventuras de Manuel Fúria têm em comum é o facto de valerem como enciclopédias da música moderna portuguesa, com as suas canções a transportarem-nos constantemente para outras décadas, tendo o condão de conseguir soar simultaneamente fresco e interessante, não sendo propriamente uma jukebox pré-programada. Até o som ambiente que foi entretendo a crescente plateia, previamente ao arranque do concerto, denotou esse interesse no espólio musical luso, tendo sido repescados temas de BAN ou GNR, entre outros.

E não ficam por aqui esse género de referências, a par das letras onde surgem muitos cenários bem tradicionais, também surgiram menções ao rio Tejo, que banha o Lux, e um pedido de palmas a acompanhar «Aquele Grande Rio» (há lá gesto mais português que umas palminhas durante um concerto!).

«Aquele Grande Rio» foi  inclusivé a primeira amostra deste disco, há uns meses, ao qual sucederam os mais recentes «20.000 Naves» e «Cala-te e Dança», tendo o vídeo desta última sido estreado justamente no dia deste concerto.

No entanto, como referimos, há sempre novos laivos e até apontamentos originários de outros quadrantes que nos passam pelos tímpanos durante o desfilar dos novos temas, como Interpol nos primeiros instantes de «Ela Vai Voltar», ou Arcade Fire no arraial de instrumentos da música tocada em fase de encore, na qual Manuel Fúria tomou conta das teclas do piano. Tocando este aspecto, o quinteto de Náufragos mostra-se uma banda extremamente compacta e que sabe perfeitamente o que executar em palco, injectando ainda mais força e emoção à sonoridade captada em estúdio.

E em termos de emoção, o maior destaque vai para a música final do alinhamento principal, «Canção Infinita», que é sem dúvida uma canção maior, e que se destaca a par de «A Porta e o Cordeiro» (esta por ter um registo marcadamente distinto das demais, valendo como a balada do disco). Curiosamente é a única em que Manuel Fúria abandona a guitarra, trocando-a por um cigarro, enquanto debita em registo de spoken word uma autêntica radiografia da sua vida, em especial da sua juventude, não poupando referências aos seus ídolos pop, desde a música à literatura, passando pelo futebol. O tema vai-se espraiando enquanto os músicos abandonam o palco, um por um, até deixarem isolada a bateria que remata o fim deste exercício que fica claramente na memória, até porque o hoo-hoo é viciante.

“Viva Fúria” é claramente mais um passo sólido produzido pela memória colectiva cantada por Manuel Fúria, em direcção a um futuro sempre com um pé no passado.

Alinhamento

– Pequeno Peixe
–  20.000 Naves
– Corações Com Fome
– Ela Vai Voltar
– Casa da Floresta
– Aquele Grande Rio
– A Porta e o Cordeiro
– Nova
– Cavalos Brancos
– Cala-te e Dança
– Canção Infinita
– Encore



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