O Americano
A paranóia do assassino profissional.
Pelo trailer e primeiras descrições, poderia pensar-se que “O Americano” de Anton Corbjin seria uma nova versão de “Os Limites do Controlo” de Jim Jarmusch, ou seja, mais um filme na veia de “O Samurai” de Jean-Pierre Melville e de “Profissão: Repórter” de Michelangelo Antonioni, dos assassinos profissionais a fugir de perigos obscuros, envoltos eles mesmos num nevoeiro de mistério. É e não é. Se o filme de Jarmusch joga no absurdo, na beleza hipnótica das imagens, e o de Melville nunca assume o desespero do protagonista ou fá-lo com uma patine de fastio, o de Corbjin expõe a permanente angústia de um assassino a soldo com a cabeça a prémio.
“O Americano” está mais próximo de “Profissão: Repórter”, o homem sem nome fixo de George Clooney não está enfastiado como Alain Delon, nem atravessa a paisagem, imponente como Isaach de Bankolé, partilha a paranóia e o medo de Jack Nicholson, é como ele um estrangeiro numa terra desconhecida, destaca-se da paisagem da pequena aldeia labiríntica onde se refugia, demasiado descoberto nas suas ruas e vielas, donde pode aparecer sempre o ataque esperado.
A primeira e magistral cena estabelece a tensão que marca o resto do filme, ao saber que alguém anda atrás dele, o Jack/Edward de George Clooney sabe que a próxima tentativa surgirá mais cedo ou mais tarde. Corbjin incute a paranóia no próprio espectador, ansioso pela violência iminente, perfeitamente identificado com a personagem que não sabe de onde ou quando ela vem. Os primeiros dois terços encenam perfeitamente esses jogo de esconde e foge, de gato e rato, em que o inimigo é invisível e por isso mais poderoso. Quando o filme mostra mais, no último terço, fá-lo bem, fá-lo para aumentar a tensão, quando tudo está em jogo.
A personagem de George Clooney não é um bom homem, não é um assassino com coração de ouro, é capaz das piores coisas, é imoral, o inferno em que vive, o inferno de que o padre lhe fala, foi construído por ele, os seus demónios não são de enfeite, são palpáveis, os seus pecados estão expostos desde o início. O amor com a prostituta italiana, jovial e apaixonada, é bonito, mas ao lembrar a primeira cena, até que ponto Clooney morrerá por ele? O filme não responde completamente a essa pergunta, meio-responde, como faz com as outras perguntas pendentes.
“O Americano” é um trabalho de precisão, fabricado laboriosamente e minuciosamente, como as armas e instrumentos de matar que saem das mãos do artesão Jack ou Edward ou lá como é que ele se chama. “O Americano” é um dos grandes filmes do ano. Um dos grandes filmes dos últimos tempos.
TRAILER
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