Shopping and Fucking

No mundo das transacções!

A Metamorfose Total apresenta, até 6 de Agosto, na Casa d’Os Dias da Água, em Lisboa, a peça Shopping and Fucking, da autoria do britânico Mark Ravenhill e encenação de Carlos Afonso Pereira.

Bem vindo ao mundo das transacções. Aqui, o cartão de crédito é rei e não há lugar para sentimentos ou relações. Estas são as duras regras de um jogo que as personagens do Shopping and Fucking (interpretadas por Anabela Brígida, Carlos Afonso Pereira, Carlos Vieira, Miguel Moreira e Romeu Costa) se vêem forçadas a aceitar, sob consequência de serem banidas do sistema.

No mundo globalizado em que vivemos, o homem regressa à condição de escravo por que já não é dono de qualquer pensamento seu. Não acredita na sua capacidade de criação e decisão, pelo que o seu único papel passa por fugir de qualquer possibilidade ou manifestação de partilha. Numa tentativa desesperada e constante de não se viciar nos afectos, torna-se dependente de drogas, sexo e compras… No fundo de relações puramente comerciais e efémeras, se possível indolores, inodoras e irreais.

É neste turbilhão de pressupostos que as personagens iniciam uma repetitiva teia de cenas e contracenas, mais ou menos perceptíveis, comandadas pelo poder identitário que os cartões de crédito lhes conferem. Cada diálogo é predeterminado, como se de uma jogada de xadrez se tratasse, e o mais importante é saber com quem se joga para que não se ganhe apenas esmolas.

O áspero texto de Mark Ravenhill, representado nas inspiradoras salas da Casa d’Os Dias da Água, é exaltado pelas opções cénicas que, em alguns casos, criam incómodo ao público levando-o a dispersar. Por seu lado os actores detêm o poder, podem olhar o público de cima, rodeá-lo até o asfixiar e estar tão próximo que lhe manipulam a forma de agir, infelizmente algumas imprecisões nem sempre o permitem fazer.

Nas entrelinhas, e por detrás de uma linguagem rude, fica o convite à reflexão sobre a capacidade humana de vender e comprar as suas próprias emoções.