Moonspell

A novidade “Memorial” apresentada à RDB pelo vocalista Fernando Ribeiro.

É comum falar-se nos Madredeus como a banda portuguesa com maior projecção internacional, sendo o nome Moonspell não raras vezes esquecido nestas contas. Preconceito musical ou puro desconhecimento? Se o primeiro factor é quase inevitável, já o segundo parece cada vez mais difícil de aceitar – “Memorial”, novo disco de originais dos Moonspell, entrou directamente para o primeiro lugar da tabela de discos mais vendidos em Portugal. Um facto quase inédito, uma banda de heavy-metal, ainda para mais nacional, alcançar tamanho destaque nestes habitualmente desinteressantes barómetros de popularidade. “A entrada no top deve-se a diversas razões”, começa por dizer Fernando Ribeiro, vocalista da banda. “Costumo dizer, na brincadeira, que são os 15 anos de sombra e os 15 minutos de fama (risos). Temos uma maneira muito saudável de lidar com esse esquecimento mediático, essa sobranceria com que fomos encarados diversas vezes em Portugal é, infelizmente, algo transversal à nossa cultura”. Mas, a verdade, é que não é preciso conhecer as razões para “os nossos melhores cientistas fugirem para os Estados Unidos, o nosso Prémio Nobel viver em Espanha, etc”. Contudo, os Moonspell nunca desistiram de Portugal: “não que tivéssemos algo a provar à imprensa, mas sem dúvida que agora, fruto de um trabalho de anos e sem um marketing muito propositado para isso atingimos o primeiro lugar de vendas no nosso país”.

Regresso ao…futuro

Chegados a “Memorial”, 2006, novo disco de originais dos Moonspell. Um disco mais pesado que os anteriores discos de banda, um retorno às origens mais negras do grupo mas também um trabalho muito intenso e actual. Será? “Essa é a descrição acertada. Quisemos fazer um disco onde o passado de Moonspell e de uma certa geração de metal se fizesse notar, onde o risco estivesse presente e fugíssemos à lógica da linha de montagem existente no metal de hoje em dia”. A evolução tem sido uma constante nos Moonspell – “o espírito progressivo com que encarámos a banda”, avança Fernando Ribeiro, “é tão importante como manter as tradições do nosso som, ter em conta os três tempos – o passado, o presente e o futuro, porque precisamos de fazer bons discos para gravar mais no futuro”.

Um jornalista da Kerrang! classificou “Memorial” como “Goth Metal for summer months” – será uma boa definição daquilo que este disco é? “A Kerrang! é uma revista muito importante mas que utiliza sempre um certo sentido de humor nas suas críticas. Tivemos um 4/5 na crítica, o que foi óptimo. Mas essa definição é uma nota pelo facto de sermos portugueses”. O calor português, que, ao contrário do frio escandinavo, parece impróprio para formar bandas de metal. Fernando Ribeiro é de “opinião radicalmente diferente. Penso que Portugal tem nas suas raízes, na sua alma e no seu dia-a-dia a melancolia e o desespero suficiente para gerar bandas como Moonspell os outras”. “Ainda existe a noção de Portugal dada aos estrangeiros pelas agências turísticas – bons vinhos, boa cerveja, boas praias – mas quando se conhece os nossos autores e o nosso lado negro as pessoas realmente vêem-nos como uma boa imagem do nosso país”, remata.

A Internet e a Universal

Fenómenos globais como o MySpace não passam, de todo, ao lado dos Moonspell. “Apesar de sermos relativamente recentes no MySpace temos já aproximadamente 6 mil amigos. Temos um site sempre actualizado com um fórum que por vezes descamba um bocado, as pessoas do MySpace são francamente mais construtivas que as do fórum, no geral, já reparei isso”, argumenta Fernando Ribeiro.

Novo disco, nova editora. Uma relação, até ver, muito bem sucedida, na opinião do vocalista dos Moonspell: “não podemos menosprezar o trabalho que a Universal tem feito connosco, conseguimos fazer com eles fazer coisas que não conseguimos fazer em nome próprio. E temos a agradecer-lhes o facto de tratarem Moonspell como Moonspell, e não como uma banda qualquer de heavy-metal. Eles sabem que não nos podem desvirtuar nem um bocado, se não não correria bem com os fãs e connosco”.

Contraste de épocas / Morte vs. Vida

Depois dos Morbid God e já com largos anos de Moonspell na bagagem, Fernando Ribeiro contrasta a época do seu começo enquanto músico com a actual: “na altura havia muito maior disponibilidade da parte do público, actualmente creio que há um grande cinismo em relação às bandas”, afirma. “Anteriormente as coisas eram mais fáceis e mais difíceis: por um lado, hoje em dia existem os meios, e as pessoas têm de inventar os conteúdos. Dantes gravávamos K7 para distribuir um pouco por toda a gente, e esse dinamismo sempre fez falta a muitas bandas”, conclui o músico.
O metal como um género obsessivo e com a morte como pano de fundo. Existirá uma obsessão nacional com a morte? Fernando Ribeiro acredita que “quando nos juntamos à conversa, jovens, velhos, não interessa, o nosso assunto preferido depois do futebol e das mulheres (no caso dos homens) é a morte”. A vida é que é a verdadeira obsessão, não a morte”, isto é, “os portugueses têm muito medo não da morte mas de não viver, e como tal a morte está sempre presente”, conclui.



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