NOS Alive! 2022 | Dia 1 (06-07-2022)
Texto por Miguel Barba e fotografia por José Eduardo Real.
O regresso ao Passeio Marítimo de Algés tardou mas finalmente aconteceu, e se no primeiro dia se notou uma menor afluência em termos de público, a entrega que se observou acabou por compensar.
Os Modest Mouse, anteciparam a atuação pela ausência forçada de Clairo, que tinha uma pequena legião à sua espera, e que infelizmente acabou profundamente desiludida. Já os Modest Mouse acabaram oferecendo um óptimo concerto mas num registo muito distinto do que teria acontecido se tivessem tocado pela 1h da manhã como estava originalmente previsto. A banda, que se inspirou em Virginia Woolf para o nome, é uma instituição do rock independente feito nos Estados Unidos da América e a voz de Isaac Brock é inconfundível e trata do resto. De realçar o bom som ao longo de todo o concerto que permitiu evidenciar o fantástico trabalho que as guitarras fazem nas canções dos Modest Mouse. O alinhamento inclui muitos momentos de comunhão com o público, dedicado e atento, como por exemplo «Fire It Up» ou «Float On» e «Dashboard», tocadas de seguida com a última a trazer à memória finais de noite incríveis no Incógnito.
The War on Drugs, a banda de Adam Granduciel não engana. O rock é a sua matriz e a Americana está sempre presente. É quase impossível não pensar nele como um muito digno sucessor de Bruce Springsteen, que pese embora tenha as suas semelhanças, não deixa por isso de traçar (e bem) o seu próprio caminho. Desta vez houve apenas tempo para escutar «Old Skin», «Pain» e a belíssima «Red Eyes», porque os Fontaines D.C. estavam prestes a começar no palco Heineken.
Os Fontaines D.C., foram um exemplo perfeito da importância que tem ter um bom alinhamento num festival e em atuações que em muitos casos têm sempre durações mais curtas. Os irlandeses que lançaram este ano o – por ventura – menos consensual “Skinty Fia”, quando comparado com os seus dois antecessores, e cujo título adquire um duplo significado; numa tradução mais literal refere-se à extinção do veado irlandês. A outra leva-nos para o equivalente irlandês da expressão inglesa “for fuck’s sake”. Esta duplicidade não terá sido escolhida ao acaso. Mas voltemos à questão do alinhamento que, ao intercalar verdadeiras explosões como foi o caso, «A Lucid Dream», canção com que abriram o concerto ou «A Televised Mind», quase sempre intercaladas com momentos mais contidos como, «Sha Sha Sha» ou «Nabokov», respectivamente, pautaram o concerto com um ritmo algo irregular. Quando nos sentíamos nos píncaros (e sentimo-nos lá várias vezes ao longo do concerto), de repente tudo abrandava, mas não se desenganem, os Fontaines D.C. sabem incendiar uma plateia e deixam água na boca para uma estreia em nome próprio, que face ao número de álbuns já editados, peca por tardia. Já perto do final, chega-nos «Jackie Down the Line», momento maior de “Skinty Fia”.
Há bandas que envelhecem bem com a idade. Outras nem por isso. Os Strokes têm vindo a mostrar que se encaixam mais neste segundo grupo. As canções antigas continuam a ser excelentes. Ainda é possível sentir aquele formigueirozinho no estômago quando Casablancas se atira a «New York City Cops» ou «Is This It», esta logo a abrir o concerto, mas ao mesmo tempo não conseguimos deixar de sentir que falta alguma chama ali e o estatuto não chega para compensar. O que é pena até porque o alinhamento incidiu maioritariamente sobre “Is This It”, “Room On Fire” e “First Impressions of Earth”. Pelo meio também podemos ouvir, em jeito de homenagem, um cover de «Sofia», original de Clairo e que incluiu um trecho de «As It Was» de Harry Styles. Foi bom, sim foi. Mas não foi memorável.
Podem encontrar aqui as reportagens do segundo, do terceiro e do quarto dia.
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